quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

BUDISMO - PSICOLOGIA DO AUTOCONHECIMENTO - integral








BUDISMO - PSICOLOGIA DO AUTOCONHECIMENTO


LEIA O LIVRO INTEGRAL NO NOSSO BLOG

http://historiadosamantes.blogspot.com/





Primeira Parte


Dr. Georges da Silva e Rita Homenko

Aproveitamos para deixar aqui o testemunho de nosso agradecimento a Dom Jayanetti Kulatunga (ex - Bhikkhu Anurudha), que nos iniciou no conhecimento do Budismo, e aos que nos auxiliaram na revisão de textos: Isabel Aizim Diamante, Rogel Samuel, Clarisse de Oliveira nossa colaboradora na parte de datilografia - e a muitos outros que direta ou indiretamente nos auxiliaram nesta obra, O presente trabalho Se fundamentou numa bibliografia que podemos dividir em duas partes: a primeira em fontes principais encontradas nas obras de Rhys Davids, Ven. Walpola Rahula, Lama Anagarika Govinda, Thomas Merton, Dwight Goddard, Ciflovedo, Riokan R. M. Gonçalves, e a segunda parte numa bibliografia geral - ambas descritas detalhadamente no final deste livro.

PRIMEIRO CAPÍTULO I. SIDARTA GAUTAMA, O BUDA O Buda1 nasceu em Kapilavastu, capital do reino dos Sakyas, norte da Índia, no século VI A.C. Seu nome era SIDARTA (SIDDHARTA,2 em sânscrito),3: descendia da família GAUTAMA, e era conhecido como Sakya-Muni o sábio do país dos Sakyas. Seu pai, o rei Sudhodana governava o reino dos Sakyas (atualmente Nepal) Sua mãe era a rainha Maya que faleceu logo após seu nascimento e foi substituída por sua irmã Mahapradjapati. 8 Conta a piedosa tradição budista que Sidarta Gautama nasceu no mês de "Vesak" (maio), sendo levado ao templo onde os sacerdotes encontraram em seu corpo os 32 grandes sinais e os 80 pequenos sinais que o predestinavam a ser um grande homem. o sábio Asita profetizou que ele seria, à sua escolha, um poderoso imperador ou um asceta que libertaria a humanidade dos sofrimentos. Sudhodana, impressionado com a profecia, criou Sidarta numa área confinada do palácio, onde ele ficaria alheio as misérias do mundo. Uma meditação do príncipe Sidarta anuncia a concepção da vida que terá depois. Um dia, enquanto seu pai estava ocupado com a cerimônia do ritual da primavera, o jovem príncipe observava pequeninos e delicados pássaros disputando os vermes e insetos que apareciam numa charrua. o príncipe espantou-se, a principio, de como aqueles pássaros, considerados pelos homens como símbolos da realização espiritual, cujo canto está ao nível dos poetas, como aqueles pássaros podiam ser cruéis e mesquinhos, para com outras espécies de animais menores, como os mais ferozes animais. Assim, ainda na infância, o jovem príncipe viu que os pássaros são obrigados a comer para viver e que para tal são obrigados a disputar o alimento com outros. Assim é a natureza; desta generalização extraímos uma lei universal. Pois não somente a natureza é indiferente ao sofrimento e à crueldade, como é ela mesma quem impõe estas condições a todos os seres vivos, se eles querem subsistir. Magoar ou padecer, ou fazer magoar e padecer - tal é a lei da vida. Desta maneira, podemos dizer que o jovem descobriu a inexistência de um Deus misericordioso, regendo o universo. Aos 16 anos, de acordo com os costumes da época, casou-se com Gopa Yasodhara. Os anos passavam-se alegres e descuidados, até que um dia Sidarta viu um mendigo, um velho, um moribundo e um morto. Este encontro, que o comum dos homens aceita como fato consumado, para o príncipe Sidarta despertou no seu interior uma profunda reflexão sobre a realidade da vida e o sofrimento da humanidade e, não se conformando, resolveu procurar a porta de saída desse sofrimento universal. Aos 29 anos, logo depois do nascimento do seu único filho, Rahula, renunciou aos prazeres mundanos e, vestindo o traje amarelo dos ascetas, pôs-se a vagar em busca da verdade e da paz, começando a cumprir-se a profecia de Asita. Durante seis longos e penosos anos, vagou pelo Vale do Ganges, buscando o conhecimento das famosas filosofias de seu tempo; de início discípulo do sábio Alara Kalana, que lhe ensinou a meditação iogue, através da qual alcançou o estado mental conhecido como "a região da percepção e não-percepção". Não convencido dos ensinamentos de seu mestre, Sidarta buscou o grande Uddaka Ramaputra, conseguindo chegar a um grau ainda mais elevado de concentração e percepção que, no entanto, estava ainda longe do que ele buscava. Assim, deixando o mestre, seguido de cinco companheiros embrenhou-se pela floresta de Uruvilva em absoluto ascetismo, buscando o despertar espiritual através da mortificação do corpo. Conta-se que, então, Mara,5 deus dos prazeres, veio à terra pata tentar Sidarta, fazendo tudo ao seu alcance para demovê-lo de seus propósitos, nada conseguindo, entretanto. Tendo chegado ao último grau de esgotamento, quase morrendo de fome, sentindo-se às portas da morte verificou que os sacrifícios não extinguem o desejo, que o conhecimento não se obtém com um organismo enfraquecido, que o sofrimento físico perturba a mente, incapacitando-a de manter a tranqüilidade necessária à meditação. Não satisfeito com as 9 práticas de ascetismo, decidiu voltar a um modo de vida mais natural e seguir seu próprio caminho. As circunstâncias compeliram-no a pensar por si mesmo e a procurar dentro do seu próprio ser a solução almejada que não podia alcançar através dos seus instrutores. Sem ajuda ou orientação de qualquer poder sobrenatural, confiando apenas em seus próprios esforços e intuição, libertou-se de todas as fraquezas, aprimorou o processo de percepção, passou a ver as coisas como elas realmente são por seu próprio conhecimento intuitivo. Assim, finalmente compreendeu a Verdade, a natureza da vida e do Carma que a rege. Aos 35 anos, sentado à beira do Rio Neranjara, perto de Gaya (atual Bihar) ao pé de uma figueira pipal (ficus indica), conhecida mais tarde como árvore Bodhi6 ou Bo (árvore da Sabedoria), atingiu a Iluminação. Pregou seu primeiro sermão - "O Caminho do Meio" - a um grupo de cinco ascetas, antigos companheiros seus, no parque das Gazelas em Isipatana (atualmente Saranath), perto de Benares. Segundo um texto da antiga tradição, Gautama Buda explicou o Caminho do Meio da seguinte maneira: - Há dois extremos, é monges, que devem ser evitados por aqueles que renunciaram ao mundo. - Quais são eles? - Um, é a vida de prazeres, consagrada aos prazeres e à concupiscência, especialmente à sensualidade; essa vida é ignóbil, aviltante e estéril. O outro extremo é a prática habitual do ascetismo, infligindo ao corpo uma vida de cruéis, austeridades e penitências rigorosas, auto mortificações que são penosas, tristes, dolorosas e estéreis. Há uma vida média que é a perfeição, ó monges, que evita estes dois extremos, isto é, levar uma vida humana normal. porém refreando todas as tendências egoístas, e todos os desejos que perturbam nossa mente; é o caminho que abre os olhos e dá compreensão, que leva à paz, à sabedoria e à plena iluminação, ao Nirvana. A partir desse dia ficou conhecido como o Buda, o Sábio, o Iluminado, Bhagavad (BemAventurado), Tathagata7 (Aquele que encontrou a Verdade), Arahant (Liberto), etc. Durante 45 anos ensinou o Caminho a todas as classes de homens e mulheres, reis e camponeses, brâmanes (sacerdotes) e párias, mercadores e mendigos, religiosos e bandidos sem fazer a menor distinção entre eles. Não reconhecia diferença de castas ou grupos sociais: o Caminho que pregava estava aberto a todos os homens e mulheres prontos a compreendê-lo e segui-lo. Foi venerado enquanto viveu, porém nunca proclamou sua divindade. Foi um homem, um homem extraordinário. Faleceu aos 80 anos em Kusinara (atualmente Uttar Pradesh), não deixando nenhum sucessor, mas exortando os discípulos a observarem sua doutrina e disciplina como mestres. O sistema moral e filosófico exposto por Gautama Buda é chamado Dhamma8 em pàli9 ou Dharma em sânscrito, popularmente conhecido por Budismo. 10 Hoje o Budismo está difundido no Ceilão, Birmânia Tai1ândia, Cambodja, Laos, Vietnã, Tibete, China, Japão, Mongólia, Coréia, em algumas regiões da Índia, no Paquistão, Nepal, União Soviética, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Brasil e muitos outros países. De acordo com a tradição budista, três importantes acontecimentos na vida de Sidarta Gautama ocorreram no dia de lua cheia de Vesak (mês de maio): seu nascimento, sua Iluminação e seu passamento. Festivais são realizados para comemorar esses acontecimentos, conhecidos como celebrações de Vesak. 1. Buda: significa Supremo Iluminado, Desperto, aquele que esta liberto do sono da Ignorância e inundado de Suprema Sabedoria; vem da palavra Budh, que significa "despertar". 2. Siddharta: como termo significa "realização de todos os deuses", abreviação de Sarvarthasiddha. 3. Sânscrito: língua clássica dos brâmanes e sacerdotes; não parece ter sido uma língua popular. Significa "concluído, perfeito"; vem da preposição san que significa "com", e da raiz kr, "fazer". Língua antiga na qual foram escritos os textos religiosos do Hinduísmo e Budismo Mahayana 4. Gautama: significa, em sânscrito, "o mais vitorioso (tama), na terra (gau)". 5. Mara e a tentação, personificada nas paixões humanas; análogo ao "Satanás" bíblico. 6. Bodhi, em páli, significa Iluminação,. Suprema Compreensão, também é chamada a árvore sob a qual o Buda obteve Iluminação. 7. Tathagata: aquele que encontrou a Verdade. Tatha: verdade; agata: chegar, alcançar. Outros epítetos, com respeito ao Buda, são: Sakyamuni: o sábio do país dos Sakyas; Sakyasimba: o leão Sakya; Sugata: o Feliz; Sattha: o Instrutor; Sarvajna: o Onisciente. (Prof. Mário Lobo Leal, O Dhammapada.) 8. Dhamma (páli) ou Dharma (sânscrito): palavra com muitas significações. Derivada da raiz dhr, no sentido de "sustentar", portanto dharma é aquilo que sustenta os esforços da pessoa" quando esta prática de acordo com ele. Também nos textos budistas significa Lei, isto é, a Lei que governa o aparecimento, existência e desaparecimento de todos os fenômenos físicos e psicológicos. Os ensinamentos de Gautama Buda são chamados tradicionalmente de Dharma ou Dhamma. (XIV Dalai Lama, A Visão da Sabedoria. Obra citada.) 9.Pàli: língua derivada do sânscrito, usada pelos monges budistas; língua em que foram originalmente escritos os cânones Budistas da Escola Theravada.




em>

FELICIDADES!


QUE A DOR DE TODOS OS SERES VIVOS SE DESAPAREÇA
QUE EU SEJA O MÉDICO E O REMÉDIO
QUE EU SEJA O ENFERMEIRO DE TODOS OS SERES
ATÉ QUE TODOS SEJAM CURADOS
(SHANTIDEVA)

quinta-feira, 11 de março de 2010

No Ajahn Chah
















A Paz que está mais além

"...Meditar significa pacificar a mente de modo a permitir que a sabedoria surja…Para colocar de forma sucinta, é apenas uma questão de felicidade e infelicidade. A felicidade é uma sensação agradável na mente, a infelicidade é justamente a sensação desagradável. O Buda ensinou a separar essa felicidade e infelicidade da mente..."
É muito importante que pratiquemos o Dhamma. Se não praticarmos, então todo o nosso conhecimento será somente um conhecimento superficial, a sua cobertura externa somente. É como se tivéssemos um certo tipo de fruta mas que ainda não a tivéssemos comido. Apesar de termos essa fruta nas nossas mãos, ela não nos traz nenhum benefício. Somente comendo a fruta é que podemos realmente conhecer o seu sabor.

O Buda não louvava aqueles que simplesmente acreditavam nos outros, ele louvava a pessoa que tinha o conhecimento interiorizado. O mesmo que com a fruta, se nós já a tivermos provado, não precisaremos perguntar a ninguém mais se ela é doce ou azeda. Os nossos problemas estão solucionados. Porque estão resolvidos? Porque vemos de acordo com a verdade. Aquele que compreendeu o Dhamma é como aquele que percebeu a doçura ou acidez da fruta. Todas as dúvidas terminam nesse momento.

Quando falamos sobre o Dhamma, embora possamos falar muito, usualmente, isso pode ser resumido em quatro coisas. Elas são simplesmente entender o sofrimento, entender a causa do sofrimento, entender o fim do sofrimento e entender o caminho da prática que conduz ao fim do sofrimento. Isso é tudo. Tudo que experimentamos até agora no caminho da prática se resume nessas quatro coisas. Quando entendermos essas coisas, os nossos problemas terminam.

De onde surgem essas quatro coisas? Elas surgem justamente deste corpo e desta mente, de nenhum outro lugar. Então porque o Dhamma do Buda é tão amplo e extenso? Ele é assim de forma a explicar essas coisas de uma maneira mais detalhada, para ajudar-nos a vê-las.

Quando Siddhattha Gotama nasceu neste mundo, antes que ele enxergasse o Dhamma, ele era uma pessoa comum como qualquer um de nós. Quando ele entendeu o que era para ser entendido, isto é, a verdade do sofrimento, a causa, o fim e o caminho que conduz ao fim do sofrimento, ele compreendeu o Dhamma e se tornou um Buda perfeitamente Iluminado.

Quando nós compreendemos o Dhamma, em qualquer lugar que sentemos, entenderemos o Dhamma, em qualquer lugar que estejamos, ouviremos os ensinamentos do Buda. Quando nós compreendemos o Dhamma, o Buda está dentro da nossa mente, o Dhamma está dentro da nossa mente e a prática que conduz à sabedoria está dentro da nossa mente. Ter o Buda, o Dhamma e a Sangha dentro da nossa mente significa que, boas ou más, saberemos claramente, por nós mesmos, a verdadeira natureza das nossas ações. Foi assim que o Buda descartou as opiniões mundanas, ele descartou os elogios e as críticas. Quando as pessoas o elogiavam ou criticavam ele simplesmente aceitava ambos pelo que eram. Essas duas coisas são simplesmente condições mundanas, assim ele não se abalava com elas. Porque não? Porque ele conhecia o sofrimento. Ele sabia que se ele acreditasse nesse elogio ou crítica, estes lhe causariam sofrimento.

Quando o sofrimento surge ele nos agita, nos sentimos perturbados. Qual é a causa desse sofrimento? É porque não conhecemos a Verdade, essa é a causa. Quando a causa está presente, então o sofrimento surge. Uma vez que surge nós não sabemos como pará-lo. Quanto mais tentamos pará-lo, mais intenso ele fica. Nós dizemos, "Não me critique", ou "Não ponha a culpa em mim". Ao tentar pará-lo dessa forma, o sofrimento fica realmente mais intenso e ele não irá parar.

Portanto, o Buda ensinou que o caminho que conduz ao fim do sofrimento é fazer surgir o Dhamma como uma realidade dentro das nossas mentes. Nos tornamos alguém que testemunha o Dhamma por si mesmo. Se alguém diz que somos bons, nós não nos perdemos nisso; eles dizem que não somos bons, nós não nos perdemos nisso; eles dizem que não somos bons e nós não nos esquecemos de nós mesmos. Dessa forma podemos nos libertar. "Bem" e "mal" são apenas dhammas mundanos, eles são, apenas, estados da mente. Se os seguirmos, a nossa mente se transforma no mundo, nós ficamos tateando no escuro e não sabemos onde está a saída. Se é assim, então ainda não temos controle sobre nós mesmos. Tentamos derrotar os outros, mas agindo assim apenas derrotamos a nós mesmos; porém se temos controle sobre nós mesmos então temos controle sobre tudo - sobre todas as formações mentais, visões, sons, aromas, sabores e sensações corporais. Agora estou falando de coisas externas, elas são assim, mas o exterior também está refletido internamente. Algumas pessoas apenas conhecem o exterior, elas não conhecem o interior. Como quando dizemos para "ver o corpo no corpo". Ver o corpo exterior não é suficiente, precisamos conhecer o corpo dentro do corpo. Então, tendo investigado a mente, devemos conhecer a mente dentro da mente.

Porque devemos investigar o corpo? O que é esse "corpo no corpo"? Quando falamos conhecer a mente, o que é essa "mente"? Se não conhecermos a mente então não conheceremos as coisas dentro da mente. É ser alguém que não conhece o sofrimento, não conhece a causa, não conhece o fim e não conhece o caminho. As coisas que deveriam ajudar a extinguir o sofrimento não funcionam porque nós somos distraídos pelas coisas que o agravam. É como se tivéssemos uma coceira na cabeça e coçássemos a perna! Se é a nossa cabeça que está coçando então obviamente não vamos obter muito alívio. Da mesma forma, quando o sofrimento surge, não sabemos como lidar com ele, não conhecemos a prática que conduz ao fim do sofrimento.

Por exemplo, vejam o corpo, este corpo que cada um de nós trouxe a esta reunião. Se somente virmos a forma do corpo não há como escapar do sofrimento. Porque não? Porque ainda não enxergamos o interior do corpo, somente vemos o exterior. Somente o vemos como algo belo, que possui substância. O Buda disse que somente isso não é o suficiente. Nós vemos o exterior com os nossos olhos; uma criança pode vê-lo, animais podem vê-lo, não é difícil. O exterior do corpo pode ser visto com facilidade, mas ao vê-lo nos prendemos a ele, não conhecemos a verdade a seu respeito. Ao vê-lo nós o agarramos e ele nos morde!

Portanto devemos investigar o corpo dentro do corpo. Não importa o que exista no corpo, vá em frente e olhe. Se virmos somente o exterior, não estará nítido. Vemos cabelo, unhas e assim por diante e elas são apenas coisas belas que nos atraem, por isso o Buda nos ensinou a olhar para dentro do corpo, para ver o corpo dentro do corpo. O que é o corpo? Olhem para dentro atentamente! Veremos muitas coisas ali que nos surpreenderão, porque apesar de estarem dentro de nós, nós nunca as vimos. Para qualquer lugar que caminhemos, nós vamos carregá-las conosco, sentados em um carro, nós vamos levá-las conosco, mas mesmo assim não as conhecemos!

É como quando visitamos alguns parentes e eles nos dão um presente. Nós o pegamos e colocamos na nossa mala e depois saímos sem abri-lo para ver o que é. Quando finalmente o abrimos - está cheio de cobras venenosas! O nosso corpo é igual. Se virmos somente a sua casca diremos que ele é agradável e bonito. Nós nos esquecemos. Esquecemos que é impermanente, insatisfatório e não-eu. Se olharmos dentro deste corpo veremos que ele é realmente repulsivo. Se virmos de acordo com a realidade, sem tentar disfarçar as coisas, veremos que ele é realmente patético e cansativo. O desapego irá surgir. Essa sensação de "desinteresse" não quer dizer que sintamos aversão pelo mundo ou algo parecido; é simplesmente a nossa mente sendo limpa, a nossa mente se soltando dele. Vemos as coisas como elas são por natureza. Não importa como queiramos que sejam, elas serão do seu próprio jeito. Quer riamos ou choremos, elas são simplesmente como são. As coisas que são instáveis, são instáveis; as coisas que são feias, são feias.

Portanto o Buda disse que quando experimentamos visões, sons, sabores, aromas, sensações corporais ou estados mentais, deveríamos libertá-los.Quando o ouvido ouve um som, deixe-o ir. Quando o nariz cheira um aroma, deixe-o ir…deixe-o no nariz! Quando as sensações corporais surgem, solte-se do gostar ou não gostar que vem em seguida, deixe que retornem para onde vieram. O mesmo para os estados mentais. Todas essas coisas, deixe que elas sigam o seu caminho. Isso é o conhecimento. Quer seja felicidade ou infelicidade, é a mesma coisa. A isto se chama meditação.

Meditação significa pacificar a mente de forma que a sabedoria possa surgir. Isso exige que pratiquemos com o corpo e a mente de forma a ver e conhecer as impressões sensuais da forma, do som, do sabor, do toque e das formações mentais. Colocando de modo resumido, é somente uma questão de felicidade e infelicidade. A felicidade é uma sensação agradável na mente, a infelicidade é justamente a sensação desagradável. O Buda ensinou a separar essa felicidade e infelicidade da mente. A mente é aquela que sabe. A sensação [10] é a característica da felicidade ou infelicidade, gostar ou não gostar. Quando a mente se entrega a essas coisas dizemos que ela se apega ou assume que essa felicidade e infelicidade merecem ser guardadas. Esse apego é uma ação mental, essa felicidade ou infelicidade é a sensação.

Quando afirmamos que o Buda nos disse para separar a mente da sensação, ele não quis dizer literalmente colocá-los em lugares diferentes. Ele quis dizer que a mente deve conhecer a felicidade e a infelicidade. Quando estamos sentados em samadhi, por exemplo, e a paz preenche a mente, então a felicidade pode vir mas ela não nos atinge, a infelicidade pode vir mas não nos atinge. Isto é o que quer dizer separar a sensação da mente. Podemos compará-lo com a água e óleo numa garrafa. Eles não se combinam. Mesmo se você tentar misturá-los, o óleo permanece como óleo e a água permanece como água. Porque ocorre isso? Porque eles possuem densidades diferentes.

O estado natural da mente não é nem de felicidade nem de infelicidade. Quando uma sensação entra na mente então a felicidade ou infelicidade surge. Se tivermos atenção plena então entenderemos a sensação agradável como sensação agradável. A mente que sabe não irá se agarrar a ela. A felicidade se encontra ali mas está "do lado de fora" da mente, não está enterrada dentro da mente. A mente simplesmente sabe disso com clareza.

Se separarmos a infelicidade da mente, isso significa que não haverá sofrimento, que nós não o experimentaremos? Sim, nós o experimentamos, porém sabemos que a mente é mente e a sensação é sensação. Nós não nos agarramos a essa sensação ou a carregamos conosco. O Buda separou essas coisas através do conhecimento. Ele sofria? Ele conhecia o estado de sofrimento mas não se apegava a ele, dessa forma dizemos que ele extirpou o sofrimento. E também havia a felicidade, mas ele conhecia essa felicidade, quando ela não é conhecida, é como um veneno. Ele não a tomou como parte de si mesmo. A felicidade ali estava através do conhecimento, mas ela não existia na sua mente. Dessa forma dizemos que ele separou a felicidade e a infelicidade da sua mente.

Quando dizemos que o Buda e os Iluminados aniquilaram as contaminações, [11] não é que eles realmente as aniquilaram. Se eles as tivessem aniquilado então provavelmente nós não teríamos nenhuma! Eles não aniquilaram as contaminações, quando eles as conheceram pelo que elas são, eles se soltaram delas. Alguém que seja estúpido irá se agarrar a elas, mas os Iluminados conheciam as contaminações como veneno nas suas mentes, assim eles as varreram para fora. Eles varreram para fora as coisas que lhes causavam sofrimento, eles não as aniquilaram. Alguém que não saiba disso verá algumas coisas, assim como a felicidade, como boas e então irá agarrá-las, mas o Buda as conhecia e simplesmente as varria para fora.

Mas quando a sensação surge nos entregamos a ela, isto é, a mente carrega consigo aquela felicidade e infelicidade. Na verdade elas são duas coisas distintas. As atividades da mente, sensações agradáveis, sensações desagradáveis e assim por diante, são impressões mentais, elas são o mundo. Se a mente sabe disso ela pode lidar igualmente com a felicidade ou a infelicidade. Porque? Porque ela conhece a verdade acerca dessas coisas. Alguém que não a conhece, as vê como sendo iguais. Se você se apega à felicidade será ali onde irá surgir a infelicidade mais tarde, porque a felicidade é instável, ela muda o tempo todo. Quando a felicidade desaparece, surge a infelicidade.

O Buda sabia disso porque ambas a felicidade e a infelicidade são insatisfatórias, elas possuem o mesmo valor. Quando surgia a felicidade ele a soltava . Ele tinha a prática correta, vendo que ambas as coisas possuem valores e desvantagens iguais. Elas se submetem à lei do Dhamma, isto é, elas são instáveis e insatisfatórias. Uma vez que nascem, elas morrem. Quando ele viu isso, o entendimento correto despertou e a prática correta se tornou clara. Não importa que tipo de sentimento ou pensamento surgia na sua mente, ele sabia que era simplesmente o jogo contínuo da felicidade e infelicidade. Ele não se apegava a elas.

Pouco após a sua iluminação o Buda deu um sermão acerca de entregar-se ao prazer e de entregar-se à dor. "Bhikkhus! Entregar-se ao prazer é o caminho relaxado, entregar-se à dor é o caminho tenso". Essas foram as duas coisas que atrapalharam a sua prática até o dia em que ele se iluminou, porque no início ele não se soltava delas. Assim que ele as entendeu, ele passou a se soltar delas e dessa forma foi capaz de proferir o seu primeiro sermão.

Portanto, dizemos que um meditador não deve seguir o caminho da felicidade ou infelicidade, de preferência ele deve entendê-las. Entendendo a verdade do sofrimento, ele saberá a causa do sofrimento, o fim do sofrimento e o caminho que conduz ao fim do sofrimento. E o caminho que conduz ao fim do sofrimento é a própria meditação. Para colocar de maneira simples, precisamos estar plenamente atentos.

Atenção plena é saber, ou presença da atenção. Exatamente agora o que estamos pensando, o que estamos fazendo? O que temos conosco exatamente neste instante? Observamos dessa forma, estamos conscientes de como estamos vivendo. Quando praticamos dessa forma, a sabedoria pode surgir. Nós consideramos e investigamos todo o tempo, em todas as posturas. Quando uma impressão mental surge e queremos conhecê-la tal como ela é, nós não a tomamos como sendo algo com substância. É apenas felicidade. Quando a infelicidade surge sabemos que se trata da entrega à dor, não é o caminho de um meditador.

Isto é o que chamamos de separar a mente da sensação. Se formos espertos não nos apegamos, deixamos as coisas como são. Nos tornamos "aquele que sabe'. A mente e a sensação são como óleo e água, elas estão na mesma garrafa mas não se misturam. Mesmo se estivermos enfermos ou com dor, ainda assim entenderemos a sensação como sensação, a mente como mente. Conhecemos os estados desconfortáveis ou confortáveis mas não nos identificamos com eles. Somente permanecemos com a paz, a paz que está além do conforto e da dor.

Você deve entender dessa forma, porque se não há um eu permanente então não existe refúgio. Você deve viver dessa forma, isto é, sem felicidade e sem infelicidade. Você permanece simplesmente com esse entendimento, você não carrega essas coisas.

Enquanto não alcançarmos a iluminação tudo isso pode soar estranho mas não tem importância, nós simplesmente colocamos o nosso objetivo nessa direção. A mente é a mente. Ela encontra a felicidade e a infelicidade e as vemos apenas como tais, nada além disso. Elas são divididas, não misturadas. Se estiverem misturadas então não as entenderemos. É como viver em uma casa, a casa e o seu morador estão relacionados, porém separados. Se a nossa casa está em perigo ficamos aflitos porque precisamos protegê-la, mas se a casa pegar fogo precisaremos abandoná-la. Se uma sensação desconfortável surge nós a abandonamos, tal como com a casa. Se ela estiver em chamas e nós soubermos disso, sairemos correndo. São duas coisas distintas; a casa é uma coisa, o morador é outra.

Dizemos que separamos a mente e a sensação dessa forma, mas na verdade por natureza elas já estão separadas. A nossa realização é simplesmente conhecer essa separação natural de acordo com a realidade. Quando dizemos que elas não estão separadas é porque por ignorância da verdade nos apegamos a elas.

Por isso o Buda nos disse para meditar. Essa prática de meditação é muito importante. Somente conhecer com o intelecto não é suficiente. O conhecimento que é obtido através da prática com uma mente tranqüila e o conhecimento que é obtido através do estudo são dois tipos realmente muito distintos. O conhecimento que é obtido através do estudo não é o verdadeiro conhecimento da nossa mente. A mente tenta agarrar e manter esse conhecimento. Porque tentamos mantê-lo? Solte-o ! E então quando o soltamos, lamentamos!

Se realmente tivermos o conhecimento, então poderemos nos soltar de tudo, que as coisas sejam como são. Sabemos como as coisas são e não nos esquecemos. Se acontecer de ficarmos enfermos não nos perderemos nisso. Algumas pessoas pensam, "Este ano estive enfermo todo o tempo, não pude nunca meditar". Essas são as palavras de uma pessoa realmente tola. Alguém que esteja enfermo e morrendo deve realmente ser diligente na sua prática. Uma pessoa pode dizer que não confia no seu corpo e por isso sente que não consegue meditar. Se pensarmos assim então as coisas ficarão difíceis. O Buda não ensinou dessa forma. Ele disse que aqui mesmo é o lugar para meditar. Quando estamos enfermos ou morrendo é quando podemos realmente ver e conhecer a realidade.

Outras pessoas dizem que elas não têm a oportunidade de meditar porque estão muito ocupadas. Algumas vezes professores me procuram. Eles dizem que possuem muitas responsabilidades e por isso não têm tempo para meditar. Eu lhes pergunto, "Quando vocês estão ensinando, vocês têm tempo para respirar?" Eles respondem, "Sim". "Portanto como que vocês têm tempo para respirar se o trabalho é tão agitado e confuso? Nesse caso, vocês estão distantes do Dhamma."

Na realidade, esta prática é justamente sobre a mente e as sensações. Não se trata de algo que você tenha de correr atrás ou se esforçar. A respiração continua enquanto trabalhamos. A natureza toma conta dos processos naturais - tudo que precisamos fazer é estar atentos. Continuar tentando apenas, ver internamente com clareza. A meditação é assim.

Se tivermos essa atenção presente, então todo trabalho que façamos será a ferramenta que nos permitirá continuamente saber o que é certo e o que é errado. Existe muito tempo para meditar, nós apenas não entendemos a prática de forma completa, isso é tudo. Enquanto estamos dormindo, respiramos; comendo, respiramos, não é mesmo? Porque não temos tempo para meditar? Onde quer que seja que estejamos, respiramos. Se pensarmos dessa forma então a nossa vida tem tanto valor quanto a nossa respiração, onde quer que estejamos, temos tempo.

Todos os tipos de pensamentos são condições mentais, não condições do corpo, deste modo, precisamos simplesmente ter a atenção presente, então saberemos o que é certo e o que é errado todo o tempo. Em pé, caminhando, sentado e deitado, existe tempo de sobra. Nós, apenas, não sabemos como usá-lo da forma apropriada. Por favor levem isso em conta.

Não podemos fugir das sensações, precisamos conhecê-las. Sensação é apenas sensação, felicidade é apenas felicidade, infelicidade é apenas infelicidade. Elas são simplesmente isso. Portanto, porque deveríamos nos apegar a elas? Se a mente for esperta, só de ouvir isso seria o suficiente para nos permitir separar a sensação da mente.

Se investigarmos dessa forma continuamente, a mente irá encontrar a libertação, mas não escapará através da ignorância. A mente se solta de tudo, quando ela sabe. Ela não solta devido à estupidez, não porque ela não queira que as coisas sejam como são. Ela solta porque sabe de acordo com a verdade. Isso é ver a natureza, a realidade que está à nossa volta.

Quando sabemos isso somos alguém hábil com a mente, temos habilidade com as impressões mentais. Quando temos habilidade com as impressões mentais somos hábeis com o mundo. Isto é ser um "Conhecedor do Mundo". O Buda era alguém que claramente conhecia o mundo com todas as suas dificuldades. Ele sabia que o que é preocupante e que o que não é preocupante estavam exatamente ali. O mundo é tão confuso, como é que o Buda foi capaz de entendê-lo? Com relação a isso devemos entender que o Dhamma ensinado pelo Buda não está além da nossa capacidade. Em todas as posturas devemos ter a atenção presente e autoconsciência - e quando for o momento para sentar em meditação, fazemos apenas isso.

Nós sentamos em meditação para estabelecer a paz e cultivar a energia mental. Nós não o fazemos com o propósito de explorar algo especial. A meditação de insight é estar sentado em samadhi . Em alguns lugares se diz, "Agora vamos sentar em samadhi, depois disso faremos meditação de insight". Não faça essa separação! A tranqüilidade é a base que faz surgir a sabedoria, a sabedoria é o fruto da tranqüilidade. Dizer que agora vamos fazer a meditação da tranqüilidade e mais tarde insight - você não pode fazer isso! Você somente consegue dividi-las na linguagem. Tal como uma faca, a lâmina está de um lado, a parte de trás da lâmina do outro. Você não consegue dividi-las. Se você pegar um lado irá na verdade ficar com os dois lados. A tranqüilidade faz a sabedoria surgir dessa forma.

A Virtude é o pai e a mãe do Dhamma. No princípio precisamos ter virtude. A virtude é paz. Isso significa que não existem ações incorretas com o corpo ou a linguagem. Quando não agimos da forma incorreta não ficamos agitados; quando não ficamos agitados, então a paz e o autocontrole surgem na mente. Portanto dizemos que a virtude, concentração e sabedoria são o caminho que todos os Nobres trilharam em direção à iluminação. Eles são um só. A virtude é concentração, a concentração é virtude. A concentração é sabedoria, a sabedoria é concentração. É tal como uma manga. Quando ela é uma flor a chamamos de flor. Quando se torna uma fruta a chamamos de manga. Quando amadurece nós a chamamos de manga madura. Tudo isso é uma manga que muda continuamente. A manga grande se desenvolve da manga pequena, a manga pequena se torna uma grande. Você pode chamá-las de nomes diferentes ou dar um nome só. Virtude, concentração e sabedoria estão relacionadas dessa forma. Ao final todas são o caminho que conduz à iluminação.

A manga, do momento em que surge como uma flor, simplesmente se desenvolve até o amadurecimento. Isso é o suficiente, nós devemos ver dessa forma. Seja o que for que os outros a chamem, não importa. Uma vez nascida ela cresce até envelhecer, e depois o que? Devemos meditar sobre isso.

Algumas pessoas não querem envelhecer. Quando elas envelhecem elas ficam se lamentando. Essas pessoas não deveriam comer mangas maduras! Porque queremos que as mangas amadureçam? Se não amadurecem no tempo certo, nós as amadurecemos artificialmente, não é verdade? Porém quando envelhecemos ficamos cheios de lamentações. Algumas pessoas choram, elas temem envelhecer ou morrer. Se é assim, então elas não deveriam comer mangas maduras, melhor comer somente as flores! Se podemos enxergar isso, então poderemos ver o Dhamma. Tudo fica claro, estamos em paz. Decida-se a praticar dessa forma.

Assim, hoje, o Chefe Conselheiro e o seu grupo vieram juntos para ouvir o Dhamma. Vocês deveriam tomar o que eu disse e analisar tudo cuidadosamente. Se algo não estiver correto, por favor me desculpem. Mas para saberem se está certo ou errado, depende de praticarem e enxergarem por si mesmos. Aquilo que estiver errado, joguem fora. Aquilo que estiver certo, guardem e usem. Mas na verdade, nós praticamos para soltar ambos, o que é correto e o que é incorreto. Ao final jogamos tudo fora. Se for correto, jogue fora; se for incorreto, jogue fora! Usualmente, se for correto nos apegamos à correção, se for incorreto, nos agarramos à idéia de que é incorreto e então as discussões surgem. Mas o Dhamma é o lugar onde não existe nada - absolutamente nada.


--------------------------------------------------------------------------------

Notas:

10. Sensação é uma tradução da palavra em Pali vedana, e deve ser entendida com o sentido dado por Ajaan Chah: como os estados mentais de gostar, não gostar, alegria, tristeza, etc.

11. Contaminações, ou kilesa, são os hábitos nascidos da ignorância que infestam as mentes de todos os seres não iluminados.


Ajahn Chah


Nosso Verdadeiro Lar

Uma palestra para uma discípula leiga idosa que está morrendo

Por Ajahn Chah

Agora determine que a sua mente ouça o Dhamma. Durante o período em que eu estiver falando, preste atenção às minhas palavras como se o próprio Buda estivesse sentado à sua frente. Feche os olhos e sente-se confortavelmente, componha a sua mente e faça com que ela foque a atenção em um só ponto. Com humildade permita que a Jóia Tríplice da sabedoria, verdade e pureza encontre um lugar no seu coração como forma de demonstrar o seu respeito pelo Iluminado.

Hoje eu não trouxe nada material, com substância para oferecer-lhe, somente o Dhamma, os ensinamentos do Buda. Ouça bem. Você precisa entender que mesmo o próprio Buda, com o seu grande depósito de virtude acumulada, não pôde evitar a morte física. Quando ele alcançou a velhice, ele abandonou o seu corpo e soltou o seu pesado fardo. Agora você também precisa aprender a estar satisfeita com os muitos anos em que esteve sujeita a esse corpo. Você deveria sentir que já chega.

Você pode compará-lo a utensílios de cozinha que teve por muito tempo - suas xícaras, pires, pratos e assim por diante. Quando você os comprou eles estavam limpos e brilhantes mas agora após usá-los por tanto tempo, eles mostram os sinais do tempo. Alguns já estão quebrados, outros desapareceram e aqueles que sobraram estão se deteriorando; eles não possuem uma forma estável, e faz parte da sua natureza que seja assim. Com o corpo é o mesmo - esteve continuamente mudando desde o dia em que você nasceu, através da infância e adolescência, até agora quando alcançou a velhice. Você precisa aceitar isso. O Buda disse que os fenômenos, (sankharas), quer sejam internos, do corpo, ou externos, são desprovidos de um eu, a mudança faz parte da natureza deles. Contemple essa verdade até que você a veja claramente.

Esse mesmo pedaço de carne que aqui está deitado em decadência é saccadhamma, a verdade. A verdade deste corpo é saccadhamma, e esse é o ensinamento imutável do Buda. O Buda nos ensinou a olhar para o corpo, contemplá-lo e aceitar a sua natureza. Precisamos estar em paz com o corpo, não importando o estado em que ele esteja. O Buda ensinou que devemos nos assegurar que somente o corpo esteja aprisionado e não permitir que a mente seja aprisionada junto. Agora, à medida que o seu corpo começa a perder vitalidade e deteriorar pela idade, não resista a isso, mas não permita que a sua mente se deteriore junto com ele. Mantenha a mente separada. Energize a sua mente compreendendo a verdade de como as coisas são. O Buda ensinou que essa é a natureza do corpo, não pode ser de outra forma: tendo nascido, ele envelhece e se enferma e depois morre. Essa é uma grande verdade com a qual você está se deparando agora. Olhe para o corpo com sabedoria e entenda isso.

Se a sua casa estiver inundada ou completamente queimada, qualquer que seja o perigo que a ameace, faça com que seja somente com a casa. Se ocorrer uma enchente, não permita que ela inunde a sua mente. Se ocorrer um incêndio, não permita que ele queime o seu coração. Deixe que seja somente a casa, aquilo que é externo a você, fique inundada e queimada. Permita que a mente se liberte dos seus apegos. Este é o momento certo.

Você já está viva há muito tempo. Os seus olhos já viram inumeráveis formas e cores, os seus ouvidos ouviram tantos sons, você teve incontáveis experiências. E isso é tudo que elas foram - somente experiências. Você comeu comidas deliciosas, e todos os sabores deliciosos foram somente sabores deliciosos, nada mais. Os sabores desagradáveis foram somente sabores desagradáveis, isso é tudo. Se o olho vê uma forma bonita, isso é tudo, somente uma forma bonita. Uma forma feia é somente uma forma feia. O ouvido ouve um som que hipnotiza, melodioso e não é nada além disso. Um som áspero, sem harmonia é somente isso.

O Buda disse que pobre ou rico, jovem ou velho, humano ou animal, nenhum ser neste mundo pode manter a si mesmo em um mesmo estado por muito tempo, tudo experimenta mudança. Esse é um fato da vida para o qual não há remédio. Mas o Buda disse que o que podemos fazer é contemplar o corpo e a mente de tal forma a ver a sua impersonalidade, ver que nenhum deles é "eu" ou "meu". Eles possuem meramente uma realidade provisória. É como esta casa: ela é sua somente de forma nominal, você não a pode levar para nenhum lugar. Ocorre o mesmo com a sua fortuna, as suas posses e a sua família - elas são todas suas somente no nome, na verdade elas não lhe pertencem, elas pertencem à natureza. Agora essa verdade não se aplica somente a você, todos estão na mesma posição, mesmo o Buda e os seus discípulos iluminados. Eles diferem de nós apenas num aspecto, na aceitação das coisas do modo como elas são, eles viram que não pode ser de outro modo.

Portanto o Buda nos ensinou a mapear e examinar este corpo, das solas dos pés até o topo da cabeça e em seguida até as solas dos pés novamente. Dê uma olhada no corpo. Que tipo de coisas você vê? Existe algo que seja intrinsecamente limpo? Você pode encontrar alguma essência permanente? Todo este corpo está constantemente se degenerando e o Buda nos ensinou a ver que ele não nos pertence. Faz parte da natureza que o corpo seja assim porque todos os fenômenos condicionados estão sujeitos à mudança. De que outra forma poderia ser? Na verdade, não existe nada de errado com o corpo. Não é o corpo que faz com que você sofra, mas sim a sua forma de pensar incorreta. Quando você vê o certo de maneira errada, inevitavelmente haverá confusão. É como a água de um rio. Ela naturalmente flui quando há uma inclinação, ela nunca flui em sentido contrário, assim é a natureza. Se uma pessoa estivesse às margens de um rio e vendo a correnteza fluindo rapidamente, tolamente desejasse que as águas fluíssem em sentido contrário, ela iría sofrer. O que quer que ela estivesse fazendo, a sua maneira errada de pensar não lhe daria paz. Ela ficaria infeliz devido ao seu entendimento incorreto, pensando contra a correnteza. Se ela tivesse o entendimento correto ela veria que a água deve inevitavelmente fluir de acordo com a inclinação, e até que ela entenda e aceite esse fato, a pessoa ficará agitada e preocupada.

O rio que flui de acordo com a inclinação é igual ao seu corpo. Tendo sido jovem seu corpo envelheceu e agora está fluindo tranqüilamente para a morte. Não fique desejando que seja diferente, não é algo que você tem o poder de remediar. O Buda nos disse para ver as coisas como elas são e então soltar o nosso apego em relação a elas. Tome essa noção de abandono como o seu refúgio.

Sustente a meditação, mesmo que você se sinta cansada e exausta. Deixe que a sua mente permaneça com a respiração. Respire fundo algumas vezes e depois fixe a mente na respiração usando a palavra "Buddho" como mantra. Faça disso uma prática rotineira. Quanto mais exausta você estiver, mais sutil e focalizada deve ser a sua concentração, assim você poderá suportar as sensações dolorosas que surgem. Quando você começar a se sentir cansada, faça com que todo o seu pensamento pare, que a mente se recupere e se volte para conhecer a respiração. Mantenha a recitação interior: "Bud-dho, Bud-dho". Solte tudo que é externo. Não se apegue a pensamentos acerca dos seus filhos e parentes, não se apegue a absolutamente nada. Solte. Deixe que a mente se unifique em um só ponto e permita que essa mente acalmada permaneça com a respiração. Faça com que a respiração seja o seu único objeto de interesse. Concentre até que a mente se torne cada vez mais sutil, até que as sensações sejam insignificantes e que haja uma grande clareza e vivacidade interiores. Então quando surgirem sensações dolorosas elas irão gradualmente ceder por si mesmas. Finalmente, você irá olhar para a respiração como se fosse um parente que a tivesse vindo visitar.

Quando um parente vai embora, nós o acompanhamos até a porta. Esperamos até que já não o possamos ver mais e então voltamos para dentro. Observamos a respiração da mesma forma. Se a respiração é grosseira, nós sabemos que ela é grosseira. Se ela é sutil, sabemos que é sutil. À medida que ela vai se tornando cada vez mais discreta nós a acompanhamos, simultaneamente despertando a mente. Eventualmente a respiração desaparece por completo e tudo o que resta é a sensação de estar alerta. A isto se denomina encontrar o Buda. Temos aquele entendimento cristalino que é chamado de "Buddho", aquele que sabe, aquele que está desperto, aquele que irradia. É encontrar e permanecer com o Buda, com conhecimento e clareza. Pois foi somente o Buda histórico de carne e osso que realizou o parinibbana; o verdadeiro Buda, o Buda que é o conhecimento claro e luminoso, nós podemos experimentar e realizar mesmo hoje e quando assim fizermos, o coração é um só.

Portanto, solte, deixe tudo de lado, tudo exceto o conhecimento. Não se iluda se visões ou sons surgirem na sua mente durante a meditação. Deixe-os de lado. Não se apegue a absolutamente nada. Permaneça apenas com essa atenção não dual. Não se preocupe com o passado ou o futuro, fique tranqüila e você irá alcançar o lugar onde não existe progresso, recuo e nem parada, onde não existe nada para se agarrar ou apegar. Porque? Porque não existe "eu" ou "meu". Tudo se foi. O Buda nos ensinou a que fiquemos vazios desse modo, a não carregar nada conosco. Conhecendo e tendo conhecido, solte.

Realizar o Dhamma, o caminho da libertação do ciclo de nascimento e morte, é uma tarefa que todos temos que realizar sozinhos. Portanto, continue tentando soltar tudo e entender os ensinamentos. Coloque esforço real na sua contemplação. Não se preocupe com a sua família. No momento eles são o que são, no futuro serão como você. Não existe ninguém neste mundo que possa escapar a esse destino. O Buda nos disse para deixar de lado tudo aquilo que não possui uma essência verdadeira, permanente. Se você colocar tudo de lado, irá ver a verdade, se você não fizer isso, não irá vê-la. Assim é como é, igual para todos, portanto não se preocupe e não se agarre a nada.

Mesmo que você se dê conta de que está pensando, não há problema, contanto que você pense sabiamente. Não pense de maneira tola. Se você pensar nos seus filhos, pense neles com sabedoria, não de forma tola. Qualquer coisa que chame a atenção da mente, pense e entenda aquela coisa com sabedoria, consciente da sua natureza. Se você entende alguma coisa com sabedoria, então você a solta e não há sofrimento. A mente estará brilhante, feliz e em paz, e evitando distrações ela estará unificada. Neste momento o que lhe pode ajudar e apoiar é a sua respiração.

Essa é uma tarefa sua, de ninguém mais. Deixe que os outros façam as tarefas deles. Você tem a sua própria tarefa e responsabilidade e você não precisa assumir aquelas da sua família. Não assuma nada mais, solte tudo. Esse ato de soltar irá acalmar a sua mente. A sua única responsabilidade agora é de focar a sua mente e fazer com que ela fique em paz. Deixe todo o demais para os outros. Formas, sons, odores, sabores - deixe que os outros tomem conta disso. Deixe tudo isso de lado e faça o seu próprio trabalho, cumpra a sua responsabilidade. O que quer que surja na sua mente, seja medo ou dor, medo da morte, ansiedade pelos outros ou o que seja, diga-lhes: "Não me perturbem. Vocês não são mais minha responsabilidade". Apenas diga isso para si mesma quando você vir esses dhammas surgindo.

A que se refere a palavra "dhamma" ? Tudo é dhamma. Não existe nada que não seja dhamma. E o que seria "mundo" ? O mundo é exatamente o estado mental que a está deixando agitada neste mesmo momento. "O que essa pessoa irá fazer? O que aquela pessoa irá fazer? Quando eu estiver morta quem irá cuidar deles? Como eles irão se arranjar?" Isso tudo é "o mundo". Mesmo o mero surgimento de um pensamento de medo ou dor, é o mundo.

Jogue o mundo fora! O mundo é assim mesmo. Se você permitir que ele surja na mente e domine a consciência então a mente se tornará nebulosa e não poderá ver a si mesma. Portanto, para tudo que surgir na mente, simplesmente diga: "Não diz respeito a mim. É impermanente, insatisfatório e não-eu."

Pensar que você gostaria de viver por muito tempo a fará sofrer. Mas pensar que você gostaria de morrer logo ou muito rapidamente também não é correto, é sofrimento não é? As condições não nos pertencem, elas seguem as suas próprias leis da natureza. Você não pode fazer nada acerca do modo como o corpo é. Você pode embelezá-lo um pouco, fazer com que seja atraente e limpo durante algum tempo, tal como as garotas que passam batom e deixam as unhas crescer. Porém, quando a velhice chega, todos estão no mesmo barco. O corpo é assim, você não pode fazer com que seja de outro modo. Mas o que você pode melhorar e embelezar é a mente.

Qualquer pessoa pode construir uma casa de madeira e tijolos mas o Buda ensinou que esse tipo de casa não é o nosso verdadeiro lar, é nosso só nominalmente. É uma casa no mundo e segue as regras do mundo. O nosso verdadeiro lar é a paz interior. Uma casa pode muito bem ser bonita mas não tem muita paz. Existe esta preocupação e depois aquela, esta ansiedade e depois aquela. Portanto dizemos que ela não é o nosso verdadeiro lar, está fora de nós, cedo ou tarde vamos ter que abrir mão dela. Não é um lugar em que podemos viver permanentemente porque na verdade não nos pertence, é parte do mundo. Com o nosso corpo ocorre o mesmo; assumimos que ele seja parte do eu, que seja "eu" e "meu", mas na verdade não é nada disso, é uma outra casa do mundo. O seu corpo seguiu o seu curso natural do nascimento até agora, está velho e enfermo e você não pode proibi-lo disso, assim é como é. Querer que seja diferente é tão tolo quanto querer que um pato seja uma galinha. Quando você vê que isso é impossível, que um pato tem que ser um pato, e que uma galinha tem que ser uma galinha, que os corpos têm que envelhecer e morrer, você terá energia e força. Não importa quanto você queira que o corpo se mantenha e dure por muito tempo, isso não irá ocorrer.

O Buda disse:

Anicca vata sankhara
Uppada vayadhammino
Uppajjhitva nirujjhanti
Tesam vupasamo sukho.

As formações são impermanentes,
sujeitas a surgir e cessar.
Tendo surgido elas cessam -
a tranqüilização delas é uma bênção.

A palavra "sankhara" refere-se a este corpo e mente. Os sankharas são impermanentes e instáveis, tendo surgido eles desaparecem, tendo aparecido eles cessam, e mesmo assim todos querem que eles sejam permanentes. Isso é uma tolice. Olhe para a respiração. Tendo entrado, ela sai, assim é a natureza, assim é como deve ser. A inspiração e a expiração têm que se alternar, tem que haver mudança. Os sankharas existem através da mudança, você não poderá evitá-lo. Apenas pense: você poderia expirar sem haver inspirado? Você se sentiria bem? Ou você poderia somente inspirar? Queremos que as coisas sejam permanentes, mas elas não podem ser, é impossível. Uma vez que tenhamos inspirado, é necessário expirar, quando expiramos é necessário inspirar outra vez, e assim é a natureza, não é? Tendo nascido, envelhecemos e ficamos enfermos e depois morremos e isso é perfeitamente natural e normal. Porque os sankharas fizeram a sua parte, porque a expiração e a inspiração se alternaram dessa forma, que a raça humana ainda está aqui hoje.

Assim que nascemos, estamos mortos. Nosso nascimento e morte são somente uma coisa. Tal como uma árvore: quando há uma raiz tem que haver galhos. Quando há galhos tem que haver uma raiz. Não se pode ter uma sem a outra. É um pouco engraçado ver como face à morte as pessoas ficam tão angustiadas e distraídas, chorosas e tristes e no nascimento tão felizes e contentes. É a delusão, ninguém nunca vê isso com clareza. Eu penso que se você realmente quer chorar, então seria melhor fazê-lo quando alguém nasce. Pois na verdade o nascimento é morte, morte é nascimento, a raiz é o galho, o galho a raiz. Se você precisa chorar, chore pela raiz, chore pelo nascimento. Veja com atenção: se não houvesse nascimento não haveria morte. Você pode entender isso?

Não pense muito. Somente pense: "Assim é como as coisas são". É a sua tarefa, a sua responsabilidade. Neste exato momento ninguém pode ajudá-la, não há nada que a sua família e as suas posses possam fazer por você. A única coisa que lhe pode ajudar é o entendimento correto.

Portanto não vacile. Solte tudo. Jogue tudo fora.

Mesmo que você não queira soltar, tudo está indo embora de qualquer jeito. Você pode ver como todas as diferentes partes do seu corpo estão tentando escapar? Tome o seu cabelo: quando você era jovem ele era grosso e preto, agora ele está caindo. Está indo embora. Os seus olhos costumavam ser bons e fortes e agora eles estão fracos, a sua vista embaçada. Quando os órgãos já não agüentam mais, eles vão embora, esta não é a casa deles. Quando você era uma criança os seus dentes eram sadios e firmes agora eles estão balançando, talvez você tenha dentadura. Os seus olhos, ouvidos, nariz, língua - tudo está tentando ir embora porque esta não é a casa deles. Você não pode fazer uma morada permanente em um sankhara, você pode permanecer por pouco tempo e depois tem que partir. O mesmo que um inquilino observando a sua pequena casa com os olhos enfraquecidos. Os seus dentes já não estão bem, os seus ouvidos já não estão bem, o seu corpo já não está saudável, todos estão partindo.

Portanto você não precisa se preocupar com nada, porque este não é o seu verdadeiro lar, é somente um abrigo temporário. Tendo vindo a este mundo, você deveria contemplar a sua natureza. Tudo o que existe está se preparando para desaparecer. Olhe para o seu corpo. Existe algo que ainda se encontre na sua forma original? A sua pele está como costumava estar? O seu cabelo? Não é o mesmo, é? Para onde foi tudo? Assim é a natureza, como as coisas são. Quando o tempo chega, as formações seguem o seu próprio curso. Não há nada neste mundo com o qual se possa contar - é um ciclo interminável de perturbações e problemas, prazeres e dores. Não há paz.

Quando não temos um verdadeiro lar somos como um viajante sem rumo, indo em uma direção por algum tempo e depois para outra direção, parando por algum tempo para depois continuar outra vez. Até que regressemos ao nosso verdadeiro lar nos sentimos desconfortáveis com o que quer que estejamos fazendo, da mesma forma como uma pessoa que saiu do seu vilarejo para uma viagem. Somente quando regressa outra vez para casa é que ela pode realmente relaxar e estar em paz.

Em nenhum lugar do mundo pode ser encontrada a paz verdadeira. Os pobres não têm paz e nem os ricos. Os adultos não têm paz, as crianças não têm paz, aqueles com pouca escolaridade não têm paz e nem os que têm muito estudo. Não existe paz em lugar nenhum. Essa é a natureza do mundo.

Aqueles que possuem poucas posses sofrem e da mesma forma aqueles que possuem muitas. Crianças, adultos, velhos, todos sofrem. O sofrimento de ser velho, o sofrimento de ser jovem, o sofrimento de ser rico e o sofrimento de ser pobre - nada além de sofrimento.

Quando você contempla as coisas dessa forma você vê anicca, impermanência e dukkha, insatisfação. Porque as coisas são impermanentes e não trazem satisfação? É porque são anatta, não-eu.

Ambos, o seu corpo que está aqui deitado enfermo e dolorido e a mente que está consciente da sua enfermidade e dor, são denominados dhammas. Aquilo que é desprovido de forma, os pensamentos, sensações e percepções são denominados namadhamma. Aquilo que está atormentado com dores e desconfortos é denominado rupadhamma. O material é dhamma e o não material é dhamma. Portanto vivemos com dhammas, no dhamma, nós somos dhamma. Na verdade não existe um eu que pode ser encontrado em nenhum lugar, só existem dhammas que estão continuamente surgindo e desaparecendo, que é a sua natureza. A cada momento estamos experimentando o nascimento e a morte. Assim é como as coisas são.

Quando pensamos no Buda, da forma tão verdadeira como ele falou, sentimos o quanto ele é digno de que o saudemos, honremos e respeitemos. Sempre que vemos a verdade de algo, vemos os seus ensinamentos, mesmo sem nunca, na verdade termos praticado o Dhamma. Porém mesmo que tenhamos conhecimento dos seus ensinamentos, que os tenhamos estudado e praticado, mas ainda sem ver a verdade que eles contêm, então ainda não teremos um lar.

Portanto, compreenda esse ponto de que todas as pessoas, todas as criaturas, estão prestes a ir embora. Quando os seres viverem um certo tempo eles seguirão o seu caminho. O rico, o pobre, o jovem, o velho, todos os seres irão experimentar essa mudança.

Quando você se der conta de que o mundo é assim, você sentirá que é um lugar que incomoda muito. Quando você se der conta de que não há nada estável ou sólido em que você possa confiar, você se sentirá incomodado e desencantado. Sentir-se desencantado no entanto não significa que você terá aversão. A mente estará clara. Ela vê que não existe nada que possa ser feito para remediar esse estado de coisas, assim é o mundo. Sabendo disso, você pode soltar o apego, soltar com a mente que não está feliz nem triste mas em paz com os sankharas, pois vê com sabedoria a sua natureza de mudança constante.

Anicca vata sankhara – todas as formações são impermanentes. Colocando de maneira simples: impermanência é o Buda. Se vemos um fenômeno impermanente com clareza, veremos que ele é permanente, permanente no sentido de que a sua sujeição à mudança é constante. Essa é a permanência que os seres vivos possuem. Existe transformação contínua, da infância através da juventude até a velhice, e essa mesma impermanência, essa disposição à mudança é fixa e permanente. Se você encará-lo dessa forma o seu coração estará em paz. Não é somente você que tem que passar por isso, são todos.

Quando você considera as coisas dessa forma, você as verá como um incômodo e o desencantamento irá surgir. O seu deleite com o mundo dos prazeres sensuais irá desaparecer. Você verá que se tiver muitas coisas, terá que abandonar muitas coisas; se tiver poucas, abandonará poucas. A riqueza é somente riqueza, uma vida longa é somente uma vida longa, elas não têm nada de especial.

O que é importante é que façamos o que o Buda nos ensinou e que construamos o nosso lar, construi-lo utilizando o método que eu estive lhe explicando. Construa o seu lar. Solte tudo. Solte até que a mente alcance a paz que está livre de avançar, livre de retroceder e livre de ficar imóvel. O prazer não é o nosso lar, a dor não é o nosso lar. O prazer e a dor, ambos, decaem e desaparecem.

O Grande Mestre viu que todos os sankharas são impermanentes e por isso ele nos ensinou a soltar o nosso apego por eles. Quando chegarmos ao fim das nossas vidas, não teremos escolha de qualquer maneira, não seremos capazes de levar nada conosco. Portanto não seria melhor se soltar das coisas antes disso? Elas são somente um fardo pesado que carregamos; porque não se desfazer desse fardo agora? Porque o esforço de carregá-lo conosco? Solte tudo, relaxe e deixe que a sua família tome conta de você.

Aqueles que cuidam de um enfermo, cultivam a bondade e a virtude. Alguém que esteja doente e que oferece aos outros essa oportunidade não deveria dificultar ainda mais as coisas para eles. Se existe dor ou algum outro problema, diga-lhes e mantenha a mente em um estado saudável. Aquele que estiver cuidando dos pais deve preencher a sua mente com cordialidade e bondade e não se deixar pegar pela aversão. Essa é a ocasião em que você pode pagar o seu débito para com eles. Desde o seu nascimento através da infância, conforme você crescia, você esteve na dependência dos seus pais. Estamos aqui hoje porque as nossas mães e pais nos ajudaram de tantas formas. Devemos a eles muita gratidão.

Portanto hoje, todos vocês, crianças e parentes aqui reunidos, juntos, vejam como os seus pais se tornam as suas crianças. Antes vocês eram as crianças deles; agora eles são as crianças de vocês. Eles ficam cada vez mais velhos até que se convertem em crianças novamente. A sua memória fica falha, os olhos já não vêm tão bem e os seus ouvidos não escutam, às vezes misturam as palavras. Não deixem que isso os perturbe. Todos vocês que cuidam dos doentes têm que aprender a soltar. Não se agarrem às coisas, simplesmente soltem-nas e que sigam o seu próprio curso. Quando uma criança é desobediente, às vezes os pais permitem que ela faça o que quer como forma de manter a paz, para fazê-la feliz. Agora os seus pais são como essa criança. A memória e a percepção deles está confusa. Certas vezes eles confundem os seus nomes, ou vocês lhes pedem para trazer uma xícara e eles trazem um prato. É normal, não fiquem transtornados por isso.

Que o paciente possa se lembrar da bondade daqueles que cuidam dele e pacientemente suporte as sensações de dor. Faça um esforço, não permitindo que a mente se torne dispersa e agitada e não dificultando as coisas para quem está cuidando de você. Permita que aqueles que cuidam dos doentes preencham a sua mente com virtude e bondade. Que não tenham aversão pelo aspecto repugnante do trabalho, de limpar o catarro e a fleuma ou a urina e excremento. Façam o melhor possível. Todos na família podem ajudar.

Eles são os únicos pais que você possui. Eles lhe deram a vida, eles foram os seus mestres, suas enfermeiras e seus médicos - eles foram tudo para você. Eles os criaram, educaram, compartilharam as suas posses com você, fizeram de você o herdeiro, esse é o grande benefício feito pelos seus pais. Como resultado, o Buda ensinou as virtudes de kataññu e katavedi, conhecer a nossa dívida de gratidão e tentar repagá-la. Essas duas virtudes são complementares. Se os nossos pais estão passando por necessidades, se não estão bem ou enfrentando dificuldades, então fazemos o melhor possível para ajudá-los. Isto é kataññu-katavedi, é uma virtude que mantem o mundo. Previne que as famílias se separem, faz com que permaneçam estáveis e harmoniosas.

Hoje eu lhes trouxe o Dhamma como um presente nesta ocasião de enfermidade. Não tenho coisas materiais para lhes dar; parece que já existe abundância dessas coisas na casa e assim eu lhes dou o Dhamma, algo que possui um valor de longa duração, algo que vocês nunca conseguirão esgotar. Tendo recebido de mim, vocês podem passá-lo adiante para tantos outros que quiserem e ele nunca será esgotado. Assim é a natureza da Verdade. Estou feliz por dar-lhes este presente do Dhamma e espero que lhes dê força para lidar com a sua dor.

quarta-feira, 10 de março de 2010

No Ajahn Chah

No Ajahn Chah
Reflexiones
Compilado y Editado por
Dhamma Garden
Transcripto para Internet por el
Monasterio Buddhista Abhayagiri
2
"No Ajahn Chah", versión española del libro original en inglés titulado "No Ajahn
Chah". Una recopilación de citas y reflexiones del Maestro Budista tailandés Ajahn
Chah, compilada y editada por
Dhamma Garden
y
Transcripto para Internet por el
Monasterio Buddhista Abhayagiri
COPYRIGHT 2004 © by The Sangha, Abhayagiri Buddhist Monastery
Sólo para distribución gratuita.
La reproducción total o parcial de esta obra por cualquier medio o procedimiento que
tenga como objetivo la venta, el lucro o cualquier otra forma de ganancia material, está
prohibida. Sin embargo, la autorización para la reimpresión teniendo como fin su
distribución gratuita puede obtenerse mediante notificación.
The Abbot,
Abhayagiri Buddhist Monastery,
16201 Tomki Road,
Redwood Valley.
CA 95470
U.S.A.
COPYRIGHT 2004 © by The Sangha, Abhayagiri Buddhist Monastery
For free distribution only.
Any reproduction, in whole or part, in any form, for sale, profit or
material gain, is prohibited. However, permission to re-print for free
distribution may be obtained upon notification.
The Abbot,
Abhayagiri Buddhist Monastery,
16201 Tomki Road,
Redwood Valley.
CA 95470
U.S.A.
3
Una vez hubo un laico que llegó hasta Ajahn Chah y le preguntó quién era Ajahn Chah.
Ajahn Chah, percibiendo que el desarrollo espiritual del individuo no era muy
avanzado, se señaló a sí mismo y dijo: "Éste, éste es Ajahn Chah."
En otra ocasión, otra persona le hizo a Ajahn Chah la misma pregunta. Esta vez, sin
embargo, percibiendo que la capacidad del que preguntaba era mayor en cuanto al
entendimiento del Dhamma, Ajahn Chah respondió diciendo: "¿Ajahn Chah? No hay
Ajahn Chah."
Las citas de esta recopilación han sido tomadas de Bodhinaya, Un Sabor a Libertad, Un
Sereno Estanque en el Bosque, Samadhi Bhavana, Percibiendo el Camino, Dhamma
Vivo, Alimento para el Corazón, y Padre Venerable, Una Vida con Ajahn Chah.
Algunas de las citas provienen de una recopilación personal inédita hasta ahora.
4
Índice
Introducción 5
Nacimiento y Muerte 6
El Cuerpo 8
La Respiración 9
El Dhamma 10
El Corazón y La Mente 13
Impermanencia 16
Kamma 18
La Práctica de la Meditación 20
No-Ser 27
La Paz 29
El Sufrimiento 31
El Maestro 35
El Entendimiento y La Sabiduría 38
La Virtud 40
Miscelánea 43
Una Invitación 52
Glosario 52
Agradecimientos 53
5
Introducción
Cuando las personas le decían a Ajahn Chah que encontraban imposible practicar en la
sociedad, él les preguntaba, "Si yo lo punzara a usted en el pecho con una vara ardiente,
sin duda afirmaría que está sufriendo, ¿acaso es debido a que vive en sociedad que no
puede deshacerse de ella?" La respuesta de Ajahn Chah aclara el asunto de una manera
similar a la parábola de la flecha envenenada del Buda. El Buda cuenta sobre un hombre
que había sido alcanzado por una flecha y que no dejaba que nadie se la quitara hasta
que sus preguntas acerca de la flecha, el arco y el arquero fuesen respondidas. El único
problema era que el hombre herido probablemente moriría antes de que pudiera obtener
las respuestas a todas sus preguntas. De lo que el hombre herido tenía que darse cuenta
era de que estaba dolorido y agonizante y que tenía que hacer algo acerca de ello
inmediatamente.
Ajahn Chah enfatizaba este punto una y otra vez en sus enseñanzas: "Usted está
sufriendo; ¡haga algo respecto a eso ahora mismo!" Él no perdía mucho tiempo
hablando acerca de la paz, la sabiduría o estados nibbánicos, sino sobre la práctica de
estar constantemente consciente y alerta de aquello que está pasando dentro del cuerpo
y la mente en el momento presente, aprendiendo simplemente cómo observar y dejar ir.
La meditación, decía, no es obtener cosas, sino deshacerse o liberarse de las cosas.
Aún cuando se le preguntaba sobre la paz que uno podía alcanzar a través de la práctica,
él hablaba más bien sobre la confusión de la cual uno debía librarse en primer lugar,
porque, según lo mostraba, la paz es el final de la confusión.
Esta recopilación trata sobre reflexiones que no hacen referencia sólo al sufrimiento y a
la práctica de la meditación, sino que también nos brinda alguna perspectiva sobre la
impermanencia, la virtud, el no-ser, etc. Esperamos que el lector tome este pequeño
libro como un compañero y "buen amigo" para los momentos de serena reflexión, y
quizás tenga un vistazo del "no-Ajahn Chah", quien solía decir: "Yo estoy siempre
hablando sobre cosas a desarrollar y cosas a abandonar, pero realmente no hay "nada"
para desarrollar ni "nada" para abandonar".
6
Nacimiento y Muerte
1
Una buena práctica es preguntarse con toda sinceridad: "¿Por qué nací?" Hágase esta
pregunta durante la mañana, tarde y noche... todos los días.
2
Nuestro nacimiento y muerte son una sola cosa. No se puede tener uno sin el otro.
Resulta curioso observar cómo, frente a la muerte, las personas están tan llorosas y
tristes y frente al nacimiento tan felices y alegres. Es una falsa ilusión. Creo que si usted
realmente quiere llorar, sería mejor hacerlo cuando alguien nace. Llore al principio,
debido a que si no hubiese nacimiento no habría muerte. ¿Puede entender esto?
3
Uno creería que la gente podría apreciar cómo sería vivir en el vientre de una persona.
¡Qué incómodo debe ser! Sólo fíjese cuán duro es simplemente permanecer en una
choza sólo por un día. Cierra todas las puertas y ventanas y ya se está sofocando.
¿Cómo sería vivir en el vientre de una persona durante nueve meses? Y sin embargo
usted quiere aún meter la cabeza justo ahí, poner su cuello en la horca una vez más.
4
¿Por qué nacemos? Nacemos para no tener que nacer otra vez.
5
Cuando uno no comprende la muerte la vida puede ser muy confusa.
6
El Buda le enseñó a su discípulo Ananda a observar la impermanencia, a ver a la muerte
en cada respiración. Debemos conocer la muerte; debemos morir de modo que podamos
vivir. ¿Qué significa esto? Morir es llegar al final de nuestras dudas, de todas nuestras
preguntas, y sólo estar aquí con la realidad presente. Usted nunca puede morir mañana;
7
usted debe morir ahora. ¿Lo puede hacer? Si lo puede hacer, usted conocerá la paz de no
hacerse más preguntas.
7
La muerte está tan cerca como nuestra respiración.
8
Si usted se ha entrenado adecuadamente no se sentirá atemorizado cuando caiga
enfermo, ni alterado cuando alguien muere. Cuando vaya a hospitalizarse para un
tratamiento, determine en su mente que si usted mejora, eso está bien, y que si usted
muere, también está bien. Le garantizo que si los doctores me dijesen que tengo cáncer
y que me voy a morir en unos pocos meses, les recordaría: "Tengan cuidado, por que la
muerte está viniendo por ustedes también. Sólo es cuestión de quién se va primero y
quién después." Los doctores no van a curar de la muerte ni impedirla. Sólo el Buda era
ese tipo de doctor, entonces ¿por qué no seguimos adelante y usamos la medicina del
Buda?
9
Si usted está asustado por la enfermedad, si teme a la muerte, entonces usted debería
contemplar de dónde vienen. ¿De dónde vienen? Surgen del nacimiento. Por lo tanto, no
se ponga triste cuando muere alguien —es sólo la naturaleza, y su sufrimiento en esta
vida ha terminado. Si quiere ponerse triste, póngase triste cuando la gente nace: "Oh,
no, aquí vienen otra vez. ¡Van a sufrir y morir otra vez!"
10
"El Que Sabe" sabe con claridad que todos los fenómenos son insubstanciales. De modo
que "El Que Sabe" no se pone feliz o triste, no va detrás de condiciones cambiantes.
Ponerse feliz, es nacer; apesadumbrarse es morir. Habiendo muerto, nacemos otra vez;
habiendo nacido, morimos otra vez. Este nacimiento y muerte de un momento al
siguiente es la interminable rueda girante del samsara.
8
El Cuerpo
11
Si el cuerpo pudiese hablar estaría diciéndonos todo el día; "Tú no eres mi dueño
¿sabes?". En realidad nos lo está diciendo todo el tiempo, pero en el idioma del
Dhamma, de modo que no estamos capacitados para comprenderlo.
12
Las condiciones no nos pertenecen. Siguen su propio rumbo natural. No podemos hacer
nada sobre la forma que tiene el cuerpo. Podemos embellecerlo un poco, hacer que
luzca atractivo y limpio durante un tiempo, como las muchachas jóvenes que se pintan
los labios y se dejan crecer las uñas, pero cuando llega la vejez todos estamos en el
mismo barco. Así es el cuerpo. No lo podemos hacer de otra manera. Sin embargo, lo
que podemos mejorar y embellecer es la mente.
13
Si nuestro cuerpo realmente nos perteneciera obedecería nuestras órdenes, Si le
decimos: "No envejezcas", o "Te prohibo enfermarte" ¿nos obedecería? ¡No! No se da
por aludido. Sólo alquilamos esta "casa", no la poseemos. Si creemos que nos pertenece,
sufriremos cuando tengamos que dejarla. Pero en realidad, no existe tal cosa como un
yo permanente, no hay nada invariable o sólido a lo que nos podamos aferrar.
9
La Respiración
14
Hay gente que nace y muere y nunca está consciente de su aliento entrando y saliendo
de su cuerpo. Eso muestra cuán lejos viven de sí mismos.
15
El tiempo es nuestra respiración presente.
16
Dice usted que está demasiado ocupado para meditar. ¿Tiene tiempo para respirar? La
meditación es su respiración. ¿Por qué tiene tiempo para respirar pero no para meditar?
La respiración es algo vital para la vida de la gente. Si usted ve que la práctica del
Dhamma es vital para su vida, entonces sentirá que la respiración y la práctica del
Dhamma tienen la misma importancia.
10
El Dhamma
17
¿Qué es el Dhamma? No hay nada que no lo sea.
18
¿Cómo enseña el Dhamma el modo adecuado de vivir? Nos muestra cómo vivir. Tiene
muchas maneras de mostrarlo —en las piedras, en los árboles o solamente frente a
usted. Es una enseñanza, pero no con palabras. Por lo tanto, serene la mente, el corazón,
y aprenda a observar. Encontrará al Dhamma revelándose en su totalidad aquí y ahora.
¿En qué otro momento y lugar va a buscarlo?
19
Primero usted entiende el Dhamma con su pensamiento. Si comienza a entenderlo, lo
practicará. Y si lo practica, comenzará a verlo, usted está en el Dhamma y tiene la
alegría del Buda.
20
El Dhamma tiene que ser hallado a través del examen de su propio corazón y mediante
la observación de lo que es verdadero y de lo que no lo es, de lo que es equilibrado y de
lo que no es equilibrado.
21
Hay una sola magia real, la magia del Dhamma. Cualquier otra magia es como la ilusión
de un truco con las cartas. Nos distrae del juego verdadero; nuestra relación con la vida
humana, el nacimiento, la muerte y la libertad.
22
Cualquier cosa que haga, conviértala en una práctica del Dhamma. Si no se siente bien,
mire en su interior. Si se da cuenta que es incorrecta y aún lo hace, eso es impureza.
11
23
Es difícil encontrar a los que escuchan el Dhamma, a los que recuerdan el Dhamma y lo
practican, a los que llegan al Dhamma y lo ven.
24
Todo es Dhamma si estamos plenamente atentos. Cuando vemos a los animales que
huyen del peligro, vemos que son iguales a nosotros. Huyen del sufrimiento y corren
hacia la felicidad. También tienen miedo. Temen por sus vidas igual que nosotros.
Cuando los observamos de acuerdo con la verdad, vemos que los animales y los seres
humanos no son diferentes. Todos somos compañeros mutuos de nacimiento, vejez,
enfermedad y muerte.
25
Más allá del tiempo y del lugar, toda la práctica del Dhamma alcanza su culminación en
el punto donde no hay nada. Es el lugar de la renuncia, del vacío, el lugar donde nos
desprendemos de nuestros agobios. Ése es el final.
26
El Dhamma no está muy lejos. Está directamente con nosotros. El Dhamma no se trata
de ángeles en el cielo ni de ninguna otra cosa como ésa. Simplemente es acerca de
nosotros, acerca de lo que estamos haciendo ahora mismo. Obsérvese a usted mismo.
Algunas veces hay felicidad, otras veces sufrimiento, en ocasiones bienestar, a veces
dolor... éste es el Dhamma. ¿Lo ve? Para conocer este Dhamma, usted tiene que leer sus
experiencias.
27
El Buda quiso que nos conectásemos con el Dhamma, pero la gente sólo hace contacto
con las palabras, los libros y las escrituras. Eso es hacer contacto con aquello que es
"acerca" del Dhamma, no con el Dhamma "real" como fue enseñado por nuestro Gran
Maestro. ¿Cómo pueden decir las personas que están practicando adecuada y
apropiadamente si no hacen eso? Están muy lejos de hacerlo.
12
28
Cuando usted escucha el Dhamma debe abrir su corazón y sosegarse en el centro. No
trate de acumular lo que escucha ni de hacer un laborioso esfuerzo para retener lo que
oye en la memoria. Sólo deje que el Dhamma fluya adentro de su corazón y se
manifieste a sí mismo, y manténgase continuamente abierto a su fluir en el momento
presente. Lo que está listo para ser retenido así lo será, y esto ocurrirá de acuerdo con su
propia armonía, no ha través de un esfuerzo determinado de su parte.
29
Del mismo modo, cuando explique el Dhamma, no debe forzarse a usted mismo.
Debería suceder por sí mismo y debería fluir espontáneamente a partir del momento
presente y de las circunstancias. La gente tiene diferentes niveles de capacidad
receptiva, y cuando usted se encuentra allí, al mismo nivel, sólo sucede, el Dhamma
fluye. El Buda tenía la habilidad de conocer los temperamentos de las personas y sus
capacidades receptivas. Él usaba este mismo método de enseñanza espontánea. No era
que él poseyese ningún poder sobrehumano especial para enseñar, sino que más bien era
sensible a las necesidades espirituales de la gente que acudía a Él, y les enseñaba de
acuerdo con ello.
13
El Corazón y La Mente
30
Solamente un libro vale la pena leer: el corazón
31
El Buda nos enseñó que cualquier cosa que inquiete a la mente durante nuestra práctica
da en el blanco. Las impurezas son inquietantes. ¡No es la mente la que se inquieta! No
sabemos lo que son nuestras mentes e impurezas. Cualquier cosa con la que no estemos
satisfechos, sencillamente no queremos saber nada con eso. Nuestro modo de vivir no es
dificultoso. Lo que es difícil es no estar satisfecho, no armonizarnos con ello. Nuestras
impurezas son lo dificultoso.
32
El mundo se halla en un estado de ajetreo febril. La mente cambia de gusto a disgusto
con el ajetreo febril del mundo. Si podemos aprender a aquietar la mente, esto será la
mayor ayuda para el mundo.
33
Si su mente es feliz, entonces usted es feliz en cualquier lugar al que vaya. Cuando la
sabiduría se despierte dentro de sí, verá la Verdad dondequiera que mire, en todo lo que
hay. Es como cuando usted aprendió a leer —usted ahora puede leer dondequiera que
va.
34
Si usted es alérgico a un lugar, será alérgico a todos los lugares. Pero no es el lugar
externo el que le está causando problemas. Es el "lugar" dentro suyo.
35
Preste atención a su propia mente. El que acarrea cosas sostiene cosas, pero el que sólo
las observa sólo ve la pesadez de las mismas. Deshágase de las cosas, suéltelas y
encuentre claridad.
14
36
La mente es intrínsecamente tranquila. La ansiedad y la confusión nacen fuera de esta
tranquilidad. Si uno observa y conoce esta confusión, entonces la mente se tranquiliza
una vez más.
37
El budismo es una religión del corazón. Sólo eso. El que practica el desarrollo del
corazón practica budismo.
38
Cuando la luz es tenue, no es fácil ver a las viejas telas de araña en los rincones de la
habitación. Pero cuando la luz es brillante puede verlas con claridad y por lo tanto puede
deshacerse de ellas. Cuando su mente esté brillante, podrá ver sus impurezas claramente
y limpiarlas.
39
El fortalecimiento de la mente no se hace moviéndola de aquí para allá así como se hace
para fortalecer al cuerpo, sino llevándola a detenerse, a aquietarse.
40
Debido a que la gente no se observa a sí misma puede cometer toda suerte de malas
acciones. No se fijan en sus propias mentes. Cuando la gente va a hacer algo malo tiene
que mirar primero alrededor para ver si hay alguien observando: "¿Me verá mi madre?"
"¿Me verá mi esposo?" "¿Me verán mis hijos?" "¿Me verá mi esposa?" Si no hay nadie
observando siguen adelante y lo hacen. Esto es insultarse a sí mismos. Dicen que nadie
está mirando y rápidamente terminan con su mala acción antes de que alguien los vea.
¿Y qué pasa con ellos? ¿No son ellos un "alguien" mirando?
41
Use a su corazón para escuchar las Enseñanzas, no sus oídos.
15
42
Están aquellos que batallan contra sus impurezas y las conquistan. Esto se llama
combatir interiormente. Los que combaten exteriormente se aferran a bombas y pistolas
para arrojar y disparar. Conquistan y son conquistados. Conquistar a otros es la manera
en la que lo hace el mundo. En la práctica del Dhamma no tenemos que combatir a
otros, sino conquistar nuestras propias mentes, resistiendo pacientemente todos nuestros
estados de ánimo.
43
¿De dónde viene la lluvia? Viene de toda el agua sucia que se evapora de la tierra, así
como la orina y el agua que usted arroja después de lavarse los pies. ¿No es maravilloso
que el cielo pueda tomar esa agua sucia y transformarla en agua limpia y pura? Su
mente puede hacer lo mismo con sus impurezas si usted la deja.
44
El Buda habló de juzgarse solamente a usted mismo, y no de juzgar a los otros, no
importa cuanto bien o mal puedan hacer. El Buda sencillamente indica el camino
diciendo: "La Verdad es así." Ahora, ¿nuestra mente es así o no?
16
Impermanencia
45
Las condiciones existen a partir de los cambios. Usted no puede impedirlo. Sólo piense:
¿podría usted exhalar sin inhalar? ¿Eso haría que se sienta bien? ¿O sólo puede inhalar?
Queremos que las cosas sean permanentes, pero eso no puede ser. Es imposible.
46
Si usted se da cuenta de que todas las cosas son impermanentes, todo su pensamiento,
gradualmente, se desarrollará y no necesitará pensar demasiado. Dondequiera que surja
cualquier cosa, todo lo que necesita decir es: "¡Ah!... ¡de nuevo!" ¡Sólo eso!
47
Todo discurso que ignora la incertidumbre no es el discurso de un sabio.
48
Si usted, realmente observa la incertidumbre con lucidez, entonces verá aquello que sí
es cierto. La certidumbre es que las cosas, inevitablemente, son inciertas, y que no
pueden ser de otra manera. ¿Lo entiende? Solamente sabiendo esto usted podrá conocer
al Buda, podrá reverenciarlo apropiadamente.
49
Si su mente trata de decirle que ya ha alcanzado el nivel del sotapanna, vaya y
reverencie a un sotapanna. Él mismo le dirá que es incierto. Si usted conoce a un
sakadagami, vaya y ríndale homenaje, cuando él lo vea, sencillamente le dirá: "No es
cosa segura." Si hay un anagami, vaya e inclínese ante él. Él sólo le dirá una cosa:
"¡Incierto!". Incluso si conoce a un arahant, vaya y ríndale homenaje. Él le dirá, todavía
con más firmeza: "¡Todo es aún más incierto!". Escuchará las palabras de los Nobles:
"¡Todo es incierto, no se aferre a nada!"
17
50
En algunas ocasiones he ido a visitar viejos lugares religiosos con templos antiguos.
Algunos de estos lugares podrían estar resquebrajados. Tal vez uno de mis amigos
observaría: "¡Qué pena! ¿No? Está resquebrajado". Yo tendría que responder: "Si no
estuviesen resquebrajados, entonces no habría tal cosa como el Buda. No habría
Dhamma. Está resquebrajado así porque está perfectamente de acuerdo con la
enseñanza del Buda."
51
Todas las condiciones siguen su propio curso natural. Ya sea que riamos o lloremos
sobre ellas, sólo siguen su propio curso natural. Y no hay conocimiento científico que
pueda evitar este rumbo natural de las cosas. Usted puede ir al dentista con el propósito
de hacerse ver las muelas, pero aún cuando él pueda arreglarlas, ellas finalmente
seguirán su curso natural. Con el tiempo, aún el dentista tendrá el mismo problema.
Todo al final se desintegra.
52
¿Qué es lo que podemos dar por cierto? Nada. No hay nada mas que sensaciones. Surge
el sufrimiento, se queda, y luego se va. Entonces la felicidad reemplaza al sufrimiento –
sólo eso. Fuera de ello no hay nada. Sin embargo, somos personas perdidas corriendo y
aferrándonos a las sensaciones continuamente. Las sensaciones no son reales, sólo los
cambios.
18
Kamma
53
Cuando los que no entienden el Dhamma actúan indebidamente, miran alrededor para
asegurarse de que nadie los esté vigilando. Pero nuestro kamma siempre está vigilando.
En realidad, nunca nos salimos con la nuestra sin ninguna consecuencia.
54
Las buenas acciones traen buenos resultados, las malas acciones traen malos resultados.
No espere que los dioses hagan cosas para usted, o que los ángeles o las divinidades
tutelares lo protejan, o que lo ayuden los días propicios. Estas cosas no son verdaderas.
No crea en ellas. Si cree en ellas, sufrirá. Siempre estará aguardando el día apropiado, el
mes apropiado, el año apropiado, los ángeles o las divinidades tutelares. De esa manera
sólo sufrirá. Examine sus propias acciones y su modo de hablar, analice su propio
kamma. Haciendo el bien, heredará benevolencia, haciendo el mal, heredará falta de
bondad.
55
Mediante la práctica adecuada usted deja que su viejo kamma se desgaste sólo. Dándose
cuenta de cómo surgen y se van las cosas, sencillamente puede estar atento y dejarlas
seguir su propio rumbo. Es como tener dos árboles: si fertiliza y riega uno y no cuida el
otro, no cabe duda cuál de los dos es el que crecerá y cuál el que morirá.
56
Algunos de ustedes han recorrido miles de millas, desde Europa y América y desde
otros lugares distantes para escuchar el Dhamma aquí, en el monasterio de Nong Pah
Pong. Pensar que ustedes han venido desde tan lejos y han pasado por muchos
problemas para llegar hasta aquí. Luego tenemos a estas personas que viven aquí nomás
afuera de los muros del monasterio pero que aún no pasaron por el portón. Eso hace que
aprecien más su buen kamma, ¿no es así?
19
57
Cuando usted hace algo malo, no hay ningún lugar dónde pueda esconderse. Aún si
otros no lo ven, usted se ve a sí mismo. Aún si se introdujese en un agujero profundo, se
encontraría a sí mismo allí. No hay forma en la que usted pueda cometer malas acciones
y salirse con la suya. Asimismo, ¿por qué no debería observar su propia pureza
también? Obsérvelo todo –paz, agitación, liberación, sus ataduras; véalo todo por sí
mismo.
20
La Práctica de la Meditación
58
Si usted quiere estar por aquí para conocer al futuro Buda, entonces no practique.
Probablemente estará por aquí lo suficiente como para verlo cuando venga.
59
He oído a la gente decir: "¡Oh!... este fue un año muy malo para mí". "¿Cómo es
posible?", les pregunto. "Estuve enfermo todo el año", responden. "No he podido
practicar para nada." ¡Oh! Si no practican cuando la muerte anda cerca, ¿cuándo van a
practicar entonces? ¡No! Se pierden cuando hay felicidad. Si están sufriendo, a pesar de
eso no practican. Cuando eso pasa se pierden también. No sé cuándo cree la gente que
va a practicar.
60
Ya he formulado el horario y las reglas del monasterio. No transgredan las normas
existentes. Cualquiera que lo hace es alguien que no ha venido con la verdadera
intención de practicar. ¿Cómo puede, tal persona, tener la esperanza de comprender algo
alguna vez? Aún si durmiese cerca de mí todos los días no me vería. Aún si durmiese
cerca del Buda, no vería al Buda si no practicase.
61
No piense que sólo sentándose con los ojos cerrados usted practica. Si piensa de esta
manera, entonces cambie rápidamente su forma de pensar. La práctica sostenida
consiste en mantener la atención plena en cada postura, ya sea sentado, caminando,
parado o acostado. Cuando deja de estar sentado, no piense que está saliendo de la
meditación, sino que sólo está cambiando de postura. Si piensa así, tendrá paz.
Dondequiera que se encuentre, tendrá esa disposición de práctica constantemente.
Conservará una continua atención plena dentro de usted mismo.
21
62
"Hasta tanto no haya alcanzado la Suprema Iluminación no me levantaré de este lugar,
aún si mi sangre se seca completamente." Leyéndolo así en los libros usted puede
pensar en probarlo por sí mismo. Usted lo haría así como lo hizo el Buda. Pero no ha
considerado que su automóvil es nada más que uno pequeño. El automóvil del Buda era,
realmente, uno grande. Él podía hacerlo todo de una sola vez. ¿Cómo se le puede ocurrir
que es capaz de comprenderlo todo de una sola vez con su pequeño, diminuto
automóvil? Es una historia totalmente distinta.
63
Fui por todas partes buscando lugares para meditar. No me di cuenta de que el lugar ya
estaba allí, en mi corazón. Toda la meditación está allí, dentro de usted. Nacimiento,
vejez, enfermedad y muerte, están justo allí, dentro de usted. Viajé por todas partes
hasta que estuve a punto de caer muerto de cansancio. Sólo entonces, cuando me
detuve, encontré lo que estaba buscando, dentro de mí.
64
Nosotros no meditamos para ver el cielo, sino para terminar con el sufrimiento.
65
No se apegue a visiones ni a luces durante la meditación, no vaya detrás de ellas para
nada. ¿Qué es lo que hay de extraordinario en la luminosidad? Mi linterna la tiene. No
puede ser de ayuda para liberarnos de nuestro sufrimiento.
66
Sin la meditación usted está ciego y sordo. El Dhamma no puede ser observado con
facilidad. Usted debe meditar para ver lo que nunca ha visto. ¿Nació maestro? No.
Primero debe estudiar. Un limón es ácido sólo cuando lo ha probado.
67
Cuando se encuentre sentado en meditación, diga, frente a cada pensamiento que pasa
por ahí: "Ese no es asunto mío."
22
68
Debemos practicar cuando estamos desganados y no únicamente cuando nos sentimos
llenos de energía o de humor para hacerlo. Eso es practicar de acuerdo a la enseñanza
del Buda. De ser por nosotros, practicamos solamente cuando nos sentimos bien.
¿Cómo vamos a llegar a alguna parte de ese modo? ¿Cómo vamos a cortar la corriente
de las impurezas cuando practicamos sólo de acuerdo a nuestros caprichos?
69
En cualquier cosa que hagamos, debemos observarnos a nosotros mismos. La lectura de
libros nunca origina nada. Los días pasan pero no nos observamos. Saber sobre la
práctica es practicar para saber.
70
Por supuesto que hay docenas de técnicas de meditación, pero todas ellas se resumen
únicamente en esto: dejar que todo sea. Colóquese aquí a un lado, donde hay calma,
fuera de la batalla. ¿Por qué no prueba?
71
Quedarse sólo pensando en la práctica, es como tratar de hacer un agujero en la sombra
y no darse cuenta de lo esencial.
72
Cuando había practicado tan sólo durante algunos pocos años, aún no podía confiar en
mí mismo. Pero una vez que obtuve mucha más experiencia aprendí a tener confianza
en mi propio corazón. Cuando usted posee esta profunda comprensión, cualquier cosa
que pase, usted puede dejarla pasar, y todo sólo brotará y morirá. Usted llegará a un
punto en el que el corazón en sí dice qué hay que hacer.
73
En la práctica de la meditación, es peor, en verdad, estar atrapado en la serenidad que
atascado en la inquietud, debido a que al menos usted querrá escapar de la inquietud, en
tanto que se halla satisfecho con permanecer en la calma sin ir más allá. Cuando los
23
estados de claridad gozosa se manifiesten durante la práctica de la meditación no se
apegue a ellos.
74
En la meditación se trata únicamente de la mente y las sensaciones. No es algo que
usted tenga que perseguir o algo con lo que tenga que luchar. La respiración continúa
mientras trabaja. La naturaleza cuida de los procesos naturales. Todo lo que tenemos
que hacer es estar atentos, volviéndonos hacia nuestro interior para observar claramente.
Así es la meditación.
75
No practicar adecuadamente es estar desatento. Estar desatento es como estar muerto.
Pregúntese a sí mismo si tendrá tiempo para practicar cuando muera. Pregúntese
continuamente: "¿cuándo moriré?" Si lo contemplamos así, nuestra mente estará alerta
en cada segundo, la cautela siempre estará presente y la atención plena y concentrada
seguirá automáticamente. Surgirá la sabiduría al observar cómo son las cosas en
realidad. La atención plena y concentrada protege a la mente de tal modo que ella sabe
cuándo surgen las sensaciones a cada momento, noche y día. Tener atención plena y
concentrada significa estar tranquilo. Estar tranquilo significa ser cuidadoso. Si uno es
cuidadoso, entonces uno practica como se debe.
76
Los fundamentos de nuestra práctica deben ser: primero, ser honesto y honrado;
segundo, estar prevenido frente a las acciones incorrectas; y tercero, ser humilde dentro
del propio corazón, ser discreto y estar satisfecho con poco. Si estamos satisfechos con
poco en lo que atañe a nuestras palabras y a todas las otras cosas, nos veremos a
nosotros mismos, no estaremos distraídos. La mente estará cimentada en la virtud, la
concentración y la sabiduría.
77
Al principio usted se apura para avanzar, se apura para regresar y se apura para
detenerse. Usted continúa así con la práctica hasta que llega a un punto donde parece
que no se trata de avanzar, ni de regresar, ¡ni tampoco de detenerse! Se terminó. No hay
24
un detenerse, ni un ir hacia delante, ni un volver atrás. Se terminó. En ese momento
usted se dará cuenta de que allí, en realidad, no hay nada de nada.
78
Recuerde que usted no medita para "obtener" nada, sino para "quitarse" cosas de
encima. Lo hacemos, no con deseo, sino con desprendimiento. Si "quiere" alguna cosa,
no la encontrará.
79
El corazón del sendero es bastante simple. No hay necesidad de explicar nada
extensamente. Libérese del amor y del odio y deje que las cosas sean. Eso es todo lo que
hago en mi propia práctica.
80
Haciendo preguntas fuera de propósito revela que usted todavía está atrapado en la
indecisión. Hablar sobre la práctica está bien si ayuda a la contemplación. Pero depende
de usted mismo ver la Verdad.
81
Meditamos para aprender cómo dejar ir, no para incrementar nuestro apego a las cosas.
La iluminación se manifiesta cuando usted deja de querer absolutamente todo.
82
Si tiene tiempo para estar atento, entonces tiene tiempo para meditar.
83
Hace poco alguien me preguntó: "A medida que meditamos varias cosas se presentan en
la mente; ¿deberíamos investigarlas o sólo notarlas yendo y viniendo?" Si usted ve pasar
a alguien a quien no conoce, podría preguntarse: "¿Quién es? ¿Dónde va? ¿Qué hace
aquí?" Pero, si conoce a la persona, es suficiente con notar su paso.
25
84
El deseo en la práctica puede ser un amigo o un enemigo. Como amigo, hace que
tengamos ganas de practicar, de comprender, de terminar con el sufrimiento. Pero estar
siempre deseando algo que no ha surgido aún, querer que las cosas sean de otra manera,
solamente causa más sufrimiento, y éste es el caso cuando el deseo puede ser un
adversario. Al final, debemos aprender a deshacernos de todos nuestros deseos, aún del
deseo de alcanzar la iluminación. Sólo entonces podemos ser libres.
85
Una vez alguien le preguntó a Ajahn Chah sobre su manera de enseñar meditación:
"¿Usa usted el método de entrevistas diarias para examinar el estado de la mente de una
persona?" Ajahn Chah respondió diciendo: "Aquí yo enseño a mis discípulos a
examinar sus propios estados mentales, a entrevistarse a sí mismos. Tal vez un monje
hoy está enojado, o quizás tiene un deseo en mente. Yo no sé nada sobre eso pero él
debería. No tiene que venir y preguntarme por ello, ¿no es así?
86
Nuestra vida es un conjunto de elementos. Usamos convenciones para describir cosas,
pero nos apegamos a las convenciones y las tomamos por algo real. Por ejemplo, las
personas y las cosas tienen nombres propios. Podríamos retornar a los comienzos, antes
de que las personas y las cosas recibieran un nombre y llamar a los hombres "mujeres" y
a las mujeres "hombres", ¿cuál sería la diferencia? Pero nos aferramos a los nombres y a
los conceptos, y así tenemos la guerra de los sexos y otras guerras también. La
meditación es para ver a través de todo esto. Sólo así podemos alcanzar lo
incondicionado y estar en paz, no en guerra.
87
Algunas personas entran al monacato a través de la fe, pero después transitan a lo largo
y a lo ancho de todo lo que el Buda enseñó. Saben más, pero se niegan a practicar como
se debe. De hecho, hoy día no hay muchos que realmente practiquen.
26
88
Teoría y práctica. La primera conoce el nombre de la planta medicinal y la segunda sale
a encontrarla y la utiliza.
89
Ruido. A usted le agrada el sonido de los pájaros pero no el de los automóviles. Le tiene
miedo a la gente y a los ruidos y por lo tanto le gusta vivir sólo en al bosque. Libérese
del ruido y cuide al bebé. El "bebé" es su práctica.
90
Un novicio recién ordenado le preguntó a Ajahn Chah cuál era su consejo para los que
eran principiantes en la práctica de la meditación. "El mismo que le doy a aquellos que
han estado aquí desde hace tiempo", respondió. ¿Y cuál es? "Tan sólo persista en la
tarea", dijo él.
91
La gente dice que la enseñanza del Buda es verdad, pero que resulta imposible
practicarla en el ámbito social. Dicen cosas como: "Soy joven, así que no tengo ocasión
de practicar, pero cuando sea viejo, practicaré". ¿Diría usted: "Soy joven, así que no
tengo tiempo para comer?" Si yo le clavase una estaca ardiente, ¿diría: "Estoy
sufriendo, es verdad, pero debido a que vivo en el ámbito social no puedo sacármela de
encima?"
92
Virtud, concentración y sabiduría, juntos forman el corazón de la práctica budista. La
virtud mantiene al cuerpo y al propio lenguaje intactos. Y el cuerpo es la morada de la
mente. Así es que la práctica tiene la forma de la virtud, la forma de la concentración y
la forma de la sabiduría. Es como un mismo pedazo de madera cortado en tres partes,
aunque realmente es un solo tronco. Si queremos desechar el cuerpo y la mente, no
podemos. Si queremos desechar la mente, no podemos. Debemos practicar con el
cuerpo y la mente. De modo que, en verdad, virtud, concentración y sabiduría trabajan
juntos en una sola unión armoniosa.
27
No–Ser
93
Una dama, devota y anciana, llegó en peregrinaje hasta Wat Pah Pong desde una
provincia cercana. Le dijo a Ajahn Chah que podía quedarse sólo por un corto período
de tiempo debido a que tenía que volver para cuidar a sus nietos y, dado que era una
vieja dama, le solicitó que por favor le ofreciese una breve charla sobre el Dhamma.
Ajahn Chah le respondió con energía: "¡Preste atención y escuche! ¡No hay nadie allí,
solamente eso! Nadie que sea dueño, nadie que sea viejo, que sea joven, que sea bueno
o malo, débil o fuerte, sólo eso, eso es todo – nada más que diversos elementos de la
naturaleza operando de acuerdo a su propia condición, todos vacíos. ¡Nadie que nace ni
nadie que muere! Aquellos que hablan de nacimiento y de muerte están hablando el
lenguaje de niños ignorantes. En el idioma del corazón, del Dhamma, no hay tales cosas
como nacimiento y muerte."
94
El verdadero fundamento de la enseñanza consiste en observar al "yo" como algo vacío.
Pero las personas vienen a estudiar el Dhamma para incrementar la propia opinión de su
yo, de modo que no quieren experimentar ni sufrimiento ni dificultades. Quieren que
todo sea cómodo y agradable. Ellos querrían trascender el sufrimiento, pero si todavía
hay un "yo", ¿cómo podrán hacerlo alguna vez?
95
Así es de sencillo una vez que lo entiende. Es así de simple y directo. Cuando surjan
cosas placenteras, comprenda que están vacías. Cuando surjan cosas desagradables,
observe que no son suyas. Pasan. No se relacione con ellas como algo propio, ni se vea
a sí mismo como poseyéndolas. Usted cree que el árbol de papaya es suyo, entonces
¿por qué no se siente herido cuando se tala? Si puede entenderlo, entonces ese es el
camino correcto, la enseñanza correcta del Buda y la enseñanza que conduce a la
liberación.
28
96
La gente no estudia lo que está más allá del bien y del mal. Esto es lo que deberían
estudiar. "Yo voy a ser como este, yo voy a ser como ése" dicen. Pero nunca dicen: "Yo
no voy a ser nada porque realmente no hay nada que sea "yo"". Eso no lo estudian.
97
Una vez que usted entiende el no-ser, el agobio de la carga de la vida se va. Estará en
paz con el mundo. Cuando vemos más allá del "yo" no nos aferramos más a la felicidad,
y por eso podemos ser verdaderamente felices. Aprender a dejar ir sin luchar,
sencillamente dejando ir, ser precisamente como es usted – sin aferrarse, sin apegarse,
libre.
98
Todos los cuerpos están compuestos por los cuatro elementos de tierra, agua, aire y
fuego. Cuando todos ellos se juntan y forman un cuerpo decimos que es un varón, una
mujer, poniéndole nombres y así, para que podamos identificarlos a unos y a otros con
más facilidad. Pero en realidad no hay nadie allí – sólo tierra, agua, aire y fuego. No se
sienta excitado en demasía ni engreído por ello. Si lo mira realmente con profundidad,
no hallará a nadie allí.
29
La Paz
99
P: ¿A qué se parece la serenidad profunda?
R: ¿Qué es la confusión? Bien, la serenidad profunda es el final de la confusión.
100
La paz que ha de hallarse dentro de uno se encuentra en el mismo lugar en el que se
ubican la agitación y el sufrimiento. No ha de hallarse en el bosque ni en la cima de la
colina, ni es otorgada por un maestro. Donde usted experimenta sufrimiento puede
encontrar la emancipación del sufrimiento. En realidad, tratar de escapar del sufrimiento
es, de hecho, correr hacia él.
101
Si usted deja ir un poco, tendrá un poco de paz. Si dejar ir mucho, tendrá mucha paz. Si
deja ir completamente, tendrá una paz completa.
102
De hecho, en verdad no hay nada para los seres humanos. Cualquier cosa que
pudiéramos ser se encuentra sólo en el plano de las apariencias. Sin embargo, si vamos
más allá del plano de las apariencias y vemos la verdad, observaremos que no hay nada
allí, sino las características universales – nacimiento al principio, cambio en la mitad y
cese en el final. Eso es todo lo que hay. Si vemos que todas las cosas son así, entonces
no surge ningún problema. Si comprendemos esto, estaremos contentos y en paz.
103
Saber lo que es bueno o malo, ya sea viajando o viviendo en un lugar. Usted no puede
encontrar la paz sobre una montaña o dentro de una cueva. Aún más, puede ir hasta el
lugar en el que el Buda alcanzó la iluminación sin siquiera estar un poco más cerca de la
verdad.
30
104
Fijarse en la forma exterior del "yo" es comparar y discriminar. Así no hallará paz. Ni
tampoco le hallará si pasa mucho tiempo buscando a la persona perfecta o al maestro
perfecto. El Buda nos enseñó a observar el Dhamma, la verdad, y no a fijarnos en las
otras personas.
105
Cualquiera puede construir una casa de madera y ladrillos, pero el Buda nos enseñó que
esa clase de hogar no es nuestro verdadero hogar. Es una casa en el mundo y sigue los
caminos del mundo. Nuestro hogar verdadero es la paz interior.
106
El bosque es apacible, ¿por qué usted no? Usted se aferra a las cosas causando su propia
confusión. Deje que la naturaleza le enseñe. Escuche el canto de los pájaros y después
déjelo ir. Si conoce a la naturaleza, conocerá el Dhamma. Si conoce al Dhamma,
conocerá a la naturaleza.
107
Buscar la paz es como buscar una tortuga con bigotes. Usted no será capaz de
encontrarla. Pero cuando su corazón esté listo, la paz vendrá a buscarlo a usted.
108
La virtud, la concentración y la sabiduría componen el Camino. Pero este Camino no es
la verdadera enseñanza todavía; no es lo que el maestro quería en realidad, sino,
sencillamente, el Camino que lo llevará hasta allí. Por ejemplo, digamos que viajó por la
ruta desde Bangkok hasta Wat Pah Pong, la ruta fue necesaria para su viaje, pero usted
estaba buscando Wat Pah Pong, el monasterio, y no la ruta. Del mismo modo, podemos
decir que la virtud, la concentración y la sabiduría son la parte exterior de la verdad del
Buda, sin embargo son la ruta que conduce a la verdad. Cuando haya desarrollado estos
tres factores, obtendrá como resultado la paz más maravillosa.
31
El Sufrimiento
109
Hay dos clases de sufrimiento: el sufrimiento que lleva a más sufrimiento y el
sufrimiento que conduce al fin del sufrimiento. El primero es el dolor de aferrarse con
vehemencia a los placeres efímeros y la aversión por lo desagradable, esa lucha
constante de la mayoría de la gente, día tras día. El segundo es el sufrimiento que
proviene de permitirse apreciar, en su totalidad, el cambio permanente de la experiencia
– placer, dolor, alegría y enojo – sin temor ni represión. El sufrimiento de nuestra propia
experiencia nos conduce a la ausencia de temor en nuestro interior y a la tranquilidad.
110
Queremos tomar por el camino fácil, pero si no hay sufrimiento, no hay sabiduría. Para
estar lo suficientemente desarrollado para la sabiduría, en realidad debe quebrarse y
llorar durante su práctica, al menos tres veces.
111
No nos convertimos en monjes o monjas para comer bien, dormir bien y estar muy
cómodos, sino para conocer al sufrimiento:
1. cómo aceptarlo...
2. cómo liberarnos de él...
3. cómo no causarlo...
Por lo tanto, no hagan aquello que causa sufrimiento, como dejarse tentar por la codicia,
o éste nunca los dejará.
112
En realidad, la felicidad es sufrimiento disfrazado, pero de una manera tan sutil que
usted no lo ve. Si usted se aferra a la felicidad es lo mismo que si se aferrase al
sufrimiento, pero no se da cuenta. Cuando se apega a la felicidad resulta imposible
deshacerse del sufrimiento intrínseco. Son así de inseparables. Es así como el Buda nos
enseñó a conocer al sufrimiento, a verlo como un daño inherente a la felicidad, a verlos
equivalentes. Por lo tanto, ¡cuídese! Cuando aparezca la felicidad no se ponga
32
demasiado contento ni se entusiasme. Cuando surja el sufrimiento no se desespere, no
pierda la cabeza. Observe que ambos tienen idéntico valor.
113
Cuando el sufrimiento aparezca, entienda que no hay nadie para aceptarlo. Si cree que el
sufrimiento es suyo, que la felicidad es suya, no será capaz de tener paz.
114
Las personas que sufren, como consecuencia, lograrán obtener sabiduría. Si no
sufrimos, no contemplamos. Si no contemplamos, no nace ninguna sabiduría. Sin
sabiduría no conocemos. No sabiendo no podemos estar libres de sufrimiento – ése,
precisamente, es el modo en el que son las cosas. Por lo tanto, debemos entrenarnos y
persistir en nuestra práctica. Entonces, cuando reflexionemos sobre el mundo, no
estaremos atemorizados como antes lo estábamos. El Buda no fue iluminado fuera del
mundo sino dentro del mundo en sí mismo.
115
La indulgencia sensorial y la auto-mortificación son dos caminos que el Buda desalentó.
Ellos son, con exactitud, felicidad y sufrimiento. Nos imaginamos que nos hemos
liberado del sufrimiento pero no lo hemos hecho. Si nos aferramos a la felicidad,
sufriremos de nuevo. Así es, la gente piensa en sentido contrario.
116
Hay personas que han sufrido en algún sitio, de modo que se van a alguna otra parte.
Cuando el sufrimiento aparece allí, se escapan otra vez. Piensan que se están escapando
del sufrimiento, pero no. Cargan con el sufrimiento para aquí y para allá sin darse
cuenta. Si no conocemos al sufrimiento, no podemos saber sobre la causa del
sufrimiento. Si no sabemos la causa del sufrimiento, entonces no podemos saber sobre
el cese del sufrimiento. No hay manera de escaparle.
33
117
Los estudiantes de hoy tienen mucho más conocimientos que los de antes. Tienen todas
las cosas necesarias, todo está más a su alcance. Pero también tienen mucho más
sufrimiento y confusión que antes. ¿Por qué?
118
No sea un Bodhisatta; no sea un Arahant; no sea nada de nada. Si es un Bodhisatta,
sufrirá. Si es un Arahant, sufrirá. Si usted "es"cualquier cosa, sufrirá.
119
Amor y odio, ambos son sufrimiento a causa del deseo. Querer es sufrimiento, querer no
tener es sufrimiento. Aún si usted consigue lo que quiere, todavía hay sufrimiento, por
que cuando lo tenga vivirá con el miedo de perderlo. ¿Cómo ha de vivir con felicidad si
tiene miedo?
120
Cuando está enojado, ¿se siente bien o mal? Si se siente tan mal, ¿por qué no se deshace
del enojo? ¿Por qué molestarse en mantenerlo? ¿Cómo puede decir que es sabio e
inteligente si se aferra a esas cosas? Hay días en los que la mente puede dar pié a que
toda la familia se pelee o puede hacer que llore durante toda la noche. Y, aún con todo
eso, todavía queremos enojarnos y sufrir. Si usted observa el sufrimiento que causa el
enojo, entonces sólo deshágase de él. Si no se deshace del enojo, continuará causándole
sufrimiento indefinidamente, no tendrá respiro. El mundo de la existencia insatisfactoria
es así. Si sabemos cómo es, podemos resolver el problema.
121
Una mujer quería saber cómo manejarse con el enojo. Le pregunté de quién era el enojo
cuando aparecía. Dijo que era de ella. Bueno, si realmente el enojo era suyo, entonces
sería capaz de decirle que desapareciese ¿no? Pero en realidad no lo puede controlar.
Aferrarse al enojo como si fuese una posesión personal causará sufrimiento. Si el enojo
realmente nos perteneciese debería obedecernos. Si no nos obedece significa que sólo es
un engaño. No se deje llevar por él. Ya sea que la mente esté feliz o triste, no se deje
llevar por él. Todo es un engaño.
34
122
Si usted ve certeza en lo que es incierto, entonces estará en vías de sufrir.
123
El Buda siempre está aquí, enseñando. Véalo por usted mismo. Aquí hay felicidad y allí
descontento. Hay placer y hay dolor. Y siempre están allí. Cuando usted comprende la
naturaleza del placer y del dolor entonces ve al Buda, entonces ve al Dhamma. El Buda
no está separado de ellos.
124
Contemplándolos en conjunto, observamos que la felicidad y el sufrimiento son
iguales, del mismo modo que el calor y el frío. El calor del fuego puede quemarnos
hasta morir, así como el frío del hielo puede congelarnos hasta la muerte. Ninguno de
los dos es más importante que el otro. Así ocurre con la felicidad y el sufrimiento. En el
mundo, todos desean felicidad y nadie desea sufrimiento. En el Nibbana no hay deseo.
Sólo hay tranquilidad.
35
El Maestro
125
Usted es su propio maestro. Estar buscando maestros no puede resolver sus propias
dudas. Investíguese a sí mismo para encontrar la verdad – adentro, no afuera. Lo más
importante es conocerse a sí mismo.
126
Uno de mis maestros comía muy rápido. Hacía ruidos mientras comía. Aún así nos
decía que comiésemos lenta y concienzudamente. Yo solía observarlo y me enojaba
mucho. Yo sufría, ¡pero él no! Es que yo prestaba atención a la forma exterior. Tiempo
después aprendí que algunas personas conducen rápido, pero con cuidado, y que otras
conducen con lentitud, pero tienen muchos accidentes. No se apegue a las reglas, a la
forma exterior. Si presta atención a los otros en un diez por ciento del tiempo y se
observa a sí mismo en un noventa por ciento, su práctica está bien.
127
Los discípulos son difíciles de enseñar. Algunos saben, pero no se molestan en
practicar. Otros no saben y tampoco tratan de averiguar. No sé qué hacer con ellos. ¿Por
qué razón los humanos tienen mentes así? Ser ignorante no es bueno, pero aún si se los
digo, a pesar de eso, no escuchan. Las personas están colmadas de dudas en su práctica.
Siempre dudan. Quieren ir al Nibbana pero no quieren recorrer el camino. Es frustrante.
Cuando les digo que mediten, se asustan, y si no se asustan, lisa y llanamente se
adormecen. En la mayoría de los casos les gusta hacer cosas que yo no enseño. Este es
el dolor de ser maestro.
128
Si pudiésemos darnos cuenta de la enseñanza del Buda fácilmente, no necesitaríamos
tantos maestros. Cuando entendemos las enseñanzas sólo hacemos lo que se requiere de
nosotros. Pero lo que hace a las personas tan difíciles de instruir es que no aceptan las
enseñanzas y polemizan con el maestro y con las enseñanzas. Frente al maestro se
36
comportan un poco mejor, ¡pero a sus espaldas se convierten en ladrones! La gente de
veras es difícil de enseñar.
129
No enseño a mis discípulos a vivir ni a practicar con desatención. Pero eso es lo que
hacen cuando no ando cerca. Cuando la policía anda cerca, los ladrones se comportan
como se debe. Cuando les preguntan si hay ladrones alrededor, por supuesto que todos
dicen que nunca han visto a ninguno. Pero tan pronto como el policía se ha ido, todos
ellos están allí de nuevo. Incluso es como en los tiempos del Buda. De modo que ponga
atención a sí mismo y no se preocupe por lo que hacen otros.
130
El verdadero maestro solamente habla de las dificultades en la práctica, de
renunciamiento o del desprendimiento del "yo". Frente a cualquier cosa que pase, no
deje al maestro. Permita que lo guíe, por que es fácil olvidarse del Camino.
131
Sus propias dudas sobre su maestro pueden ayudarlo. Tome de su maestro lo que es
bueno y preste atención a su propia práctica. La sabiduría, para usted, es observar y
desarrollar.
132
No crea en el maestro, sólo porque él lo dice, que una fruta es dulce y deliciosa.
Pruébela por usted mismo y todas las dudas se acabarán.
133
Los maestros son aquellos que señalan el rumbo del Sendero. Luego de escuchar al
maestro, tanto si caminamos por el Sendero practicando nosotros mismos y cosechamos
así los frutos de nuestra práctica o no, depende, estrictamente, de cada uno de nosotros.
134
A veces enseñar es un trabajo difícil. Un maestro se parece a un bote de basura dentro
del cuál la gente arroja sus frustraciones y problemas. Cuanto mayor es la cantidad de
37
personas a las que usted enseña, más grande es el recipiente de basura de los problemas.
Pero enseñar es una maravillosa manera de practicar el Dhamma. Los que enseñan
crecen en paciencia y entendimiento.
135
En realidad, un maestro no puede resolver nuestras dificultades. Es sólo un recurso para
investigar el Sendero. Él no puede despejarlo. De hecho, lo que dice no vale la pena
escucharlo. El Buda nunca elogió la creencia en otros. Debemos creernos a nosotros
mismos. Esto es difícil, si, pero es así como realmente es. Miramos hacia fuera pero en
realidad nunca vemos. Tenemos que decidirnos a practicar de verdad. Las dudas no
desaparecen preguntándole a los otros, sino a través de nuestra propia práctica
incesante.
38
El Entendimiento y la Sabiduría
136
Nada ni nadie puede liberarlo, excepto su propio entendimiento.
137
Ambos, el loco y el Arahant sonríen, pero sólo el Arahant sabe por qué, mientras que el
loco no lo sabe.
138
La persona sagaz observa a los otros, pero con sabiduría, no con ignorancia. Si uno
observa con sabiduría puede aprender mucho. Pero si uno observa con ignorancia
únicamente encuentra defectos.
139
El problema concreto con la gente, hoy en día, es que saben pero no hacen. Es otra cosa
si no hacen porque no saben, pero si ya saben, y aún así, no hacen, entonces ¿cuál es el
problema?
140
El estudio externo de las escrituras no es importante. Por supuesto, los libros del
Dhamma son acertados, pero no son correctos. No pueden darle entendimiento correcto.
Ver impresa la palabra "ira" no es lo mismo que experimentarla. Sólo la experiencia
personal puede brindarle una fe verdadera.
141
Si usted ve las cosas con verdadera lucidez, entonces no hay adherencia en su relación
con ellas. Vienen – agradables y desagradables –, usted las ve, y no hay apego. Llegan y
pasan. Aún si aparecen las peores clases de impurezas, tales como la codicia y la ira,
hay suficiente sabiduría como para ver su naturaleza impermanente y tan sólo dejar que
se desvanezcan. Sin embargo, si usted reacciona frente a ellas, con gusto o aversión, no
hay sabiduría. Sólo está creando más sufrimiento para usted mismo.
39
142
Cuando conocemos la verdad, nos convertimos en gente que no tiene que pensar
demasiado, nos convertimos en personas con sabiduría. Si no sabemos, tenemos muchos
más pensamientos que sabiduría o nada de sabiduría. Mucho pensamiento sin sabiduría
significa sufrimiento en extremo.
143
En estos días la gente no busca la Verdad. La gente sencillamente estudia con el
propósito de alcanzar el conocimiento necesario como para ganarse la vida, criar a sus
familias, y velar por ellos, eso es todo. Para ellos, ser astutos es más importante que ser
sabios.
40
La Virtud
144
Tenga cuidado al observar nuestros preceptos. La virtud es un sentido de vergüenza. Si
tenemos dudas respecto a algo, no deberíamos hacerlo o decirlo.
La pureza consiste en estar más allá de toda duda.
145
Hay dos niveles de práctica. El primer nivel constituye el fundamento, que es el
desarrollo de la virtud, los preceptos, con el propósito de traer felicidad y armonía entre
la gente. El segundo nivel es la práctica del Dhamma con el único objetivo de liberar al
corazón. Esta liberación es la fuente de la sabiduría y la compasión y el verdadero
cimiento de las enseñanzas del Buda. Comprender estos dos niveles es el principio
básico de la verdadera práctica.
146
La virtud y el comportamiento ético son la madre y el padre del Dhamma que crece
dentro de nosotros. Ellos le proporcionan los nutrientes apropiados y su guía.
147
La virtud es un principio básico para un mundo armonioso en el que la gente pueda vivir
realmente como humanos y no como animales. Desarrollar la virtud es el corazón de
nuestra práctica. Mantenga los preceptos, cultive la compasión y el respeto para con
toda clase de ser viviente. Sea consciente de todas sus acciones y de su lenguaje. Use la
virtud para lograr que su vida sea pura y simple. Con la virtud como fundamento de
todo lo que hace, su mente se volverá más amable, lúcida y tranquila. En este ambiente
de meditación crecerá con soltura.
148
Cuide su virtud como el jardinero cuida a sus plantas. No se apegue a grande o pequeño,
importante o insignificante. Algunas personas quieren atajos. Dicen: "Olvídense de la
concentración, iremos directamente a la percepción de la naturaleza interior de las
41
cosas; olvídense de la virtud, comenzaremos con la concentración." Tenemos muchas
excusas para nuestros apegos...
149
La atención y el esfuerzo correcto no tienen que ver con lo que se hace externamente,
sino con la percepción interna constante y la atemperación. Así, la caridad, si se realiza
con buena intención, puede traer felicidad a uno mismo y a los demás. Pero, para ser
pura, la virtud debe ser la base de esta caridad.
150
El Buda nos enseñó a abstenernos de lo que es malo, a hacer el bien y a purificar el
corazón. Nuestra práctica, entonces, es deshacernos de lo que no vale la pena y
quedarnos con lo que es valioso. ¿Todavía guarda alguna cosa mala o algo que no está
del todo bien en su corazón? ¡Por supuesto! Entonces, ¿por qué no limpia la casa?
Aunque la práctica verdadera no consiste únicamente en deshacernos de lo que es malo
y cultivar lo bueno. Esto es tan sólo una parte. Al final debemos ir más allá de ambos,
de lo bueno y de lo malo. En definitiva, hay una libertad que lo incluye todo, y un
absoluto abandono del deseo, desde donde el amor y la sabiduría fluyen con naturalidad.
151
Debemos comenzar aquí mismo, donde estamos, sencilla y directamente. Cuando estos
dos pasos iniciales, virtud y entendimiento correcto, se hayan completado, el tercer
paso, el desarraigo de las impurezas, sucederá con toda naturalidad, sin deliberación.
Cuando aparece la luz, no nos preocupamos más por salir de la oscuridad, ni nos
preguntamos adónde se fue. Sólo nos damos cuenta que hay luz.
152
Obedecer los preceptos consta de tres niveles. El primero consiste en comprometernos
con ellos como las reglas de entrenamiento que nuestros maestros nos han indicado. El
segundo nivel surge cuando las entendemos y las respetamos nosotros mismos. Pero
para aquellos que se encuentran en el nivel más alto, los Nobles, no es necesario hablar
de preceptos, de correcto o incorrecto. Esta es la auténtica virtud que proviene de la
sabiduría que conoce a las Cuatro Nobles Verdades y actúa conforme a ese
entendimiento.
42
153
Algunos monjes dejan los hábitos para ir al frente de batalla, adonde los proyectiles
pasan volando todos los días. Lo prefieren así. De veras quieren ir. El peligro los rodea
por todos lados y, a pesar de eso, están dispuestos a ir. ¿Por qué no ven el peligro? Están
dispuestos a morir debido a un arma de fuego, pero nadie quiere morir desarrollando la
virtud. De verdad es asombroso ¿no es así?
43
Miscelánea
154
Uno de los discípulos de Ajahn Chah tenía un problema en la rodilla que sólo podía ser
corregido con cirugía. Aunque los doctores le aseguraron que su rodilla estaría mejor en
un par de semanas, los meses pasaron y aún no se había curado en forma adecuada.
Cuando vio de nuevo a Ajahn Chah, se quejó diciendo: "Dijeron que no tomaría tanto
tiempo. No debería ser así." Ajahn Chah se rió y le dijo: "Si no debiera ser así, no sería
así."
155
Si alguien le ofreciese una linda y gorda banana amarilla, dulce y fragante, pero
envenenada, ¿la comería? ¡Por supuesto que no! Sin embargo, aún cuando sabemos que
el deseo es venenoso, seguimos adelante y lo "comemos" de todos modos.
156
Observe sus impurezas, conózcalas como se conoce al veneno de la cobra. Usted no
agarrará la cobra por que sabe que puede matarlo. Vea el peligro en las cosas peligrosas
y el beneficio en las cosas beneficiosas.
157
Siempre estamos insatisfechos. En la fruta dulce echamos de menos el gusto ácido, en la
fruta ácida, extrañamos lo dulce.
158
Si tiene algo que huele mal en su bolsillo, olerá mal dondequiera que vaya. No le
achaque la culpa al lugar.
159
Hoy en día el budismo, en Oriente, es como un gran árbol, que puede parecer
majestuoso pero que únicamente puede dar fruto pequeño y desabrido. El budismo en
44
Occidente es como un árbol joven, que no es capaz de producir frutos todavía, pero que
tiene el potencial de dar frutos, grandes y dulces.
160
La gente, en estos tiempos, piensa demasiado. Hay demasiadas cosas en las que puede
tener interés, pero ninguna de ellas conduce a ninguna realización verdadera.
161
Sólo porque usted vaya y llame al alcohol "perfume" no significa que éste se convierta
en perfume, usted lo sabe. Pero ustedes, las personas, cuando quieren tomar alcohol,
dicen que es perfume, entonces siguen adelante y lo beben. ¡Deben estar locos!
162
Las personas siempre están mirando hacia fuera, a la gente y a las cosas que los rodean.
Por ejemplo, miran este salón y dicen: "¡Oh, qué grande que es!" En realidad no es
grande para nada. Si parece grande o no depende de la percepción del mismo. De hecho
este salón tiene exactamente el tamaño que tiene, ni grande, ni pequeño. Pero la gente
va detrás de sus sentimientos todo el tiempo. Están tan ocupados mirando alrededor y
opinando sobre lo que ven, que no tienen tiempo para observarse en sí mismos.
163
Algunas personas se aburren, se hartan, se cansan de la práctica y haraganean. Parece
que no pueden conservar el Dhamma en su mente. Aún así, si usted va y los regaña,
nunca lo olvidarán. Algunos pueden acordarse durante el resto de sus vidas y no
perdonarlo nunca. Pero cuando llega la enseñanza del Buda, diciendo que seamos
moderados, templados, que practiquemos concienzudamente, ¿por qué siguen
olvidándose de estas cosas? ¿Por qué la gente no toma estas cosas con el corazón?
164
Estar observando que somos mejores que otros, no es correcto. Estar observando que
otros son iguales a nosotros, no es correcto. Estar observando que somos inferiores a
otros, no es correcto. Si creemos que somos mejores que otros, aparece el orgullo. Si
creemos que somos iguales a otros, dejaremos de mostrar respeto y humildad en el
45
momento debido. Si creemos que somos inferiores a otros, nos deprimimos pensando en
eso y tratamos de echarle la culpa de nuestra inferioridad al hecho de haber nacido bajo
un mal signo y cosas por el estilo. ¡Sólo deshágase de todas esas cosas!
165
Debemos aprender a liberarnos de las condiciones y no tratar de oponernos a ellas o
resistirlas. Y sin embargo, apelamos a ellas para cumplir con nuestros deseos. Buscamos
toda clase de medios para ponerlas en orden o llegar a un acuerdo con ellas. Si el cuerpo
se enferma y duele, no queremos que así sea, de modo que buscamos varios suttas para
cantar. No queremos controlarlo. Estos suttas se convierten en alguna clase de
ceremonia mística, haciendo que nos enredemos más con el apego. Eso es porque los
cantamos con el propósito de alejar la enfermedad, prolongar la vida y así. En realidad,
el Buda nos dio estas enseñanzas con el objetivo de ayudarnos a conocer la verdad sobre
el cuerpo, para que podamos dejar ir y abandonar nuestros anhelos, pero terminamos
cantándolos sólo para incrementar nuestra ilusión.
166
Conozca a su propio cuerpo, corazón y mente. Conténtese con poco. No esté aferrado a
las enseñanzas. No vaya y se aferre a grandes emociones.
167
Algunas personas le tienen miedo a la generosidad. Sienten que serán explotados u
oprimidos. Cuando estamos cultivando la generosidad sólo estamos oprimiendo a
nuestra codicia y a nuestro apego. Esto permite que nuestra verdadera naturaleza se
exprese por sí misma y se vuelva más clara y más libre.
168
Si usted toma un tizón encendido en la casa de su vecino, el fuego lo quemará. Si usted
se acerca al tizón encendido en su propia casa, ese fuego, también lo quemará. Por lo
tanto, no se aferre a nada que pueda quemarlo, no importa qué sea o dónde esté.
46
169
La gente de afuera puede decir que estamos locos por vivir así en el bosque, sentados
como estatuas. ¿Pero cómo viven ellos? Se ríen, lloran, y están tan cercados por la
codicia y el odio que de vez en cuando se matan a ellos mismos y unos a otros. Ahora
bien, ¿quiénes son los que están locos?
170
Más que simplemente enseñar a la gente, Ajahn Chah los entrenaba a través de la
creación de un ambiente general y situaciones específicas en las que ellos pudieran
aprender sobre sí mismos. Él hubiera dicho cosas como: "De lo que yo le enseño, usted
entiende, quizás, el quince por ciento" ó "Él ha sido monje durante cinco años, así que
entiende un cinco por ciento." En respuesta a esto último, un joven monje le dijo:
"Entonces yo debo tener un uno por ciento ya que he estado aquí desde hace un año."
"No", fue la respuesta de Ajahn Chah, "los primeros cuatro años no tienes porcentaje,
pero el quinto año tienes el cinco por ciento."
171
A uno de los discípulos de Ajahn Chah se le preguntó si alguna vez iba a dejar los
hábitos o si moriría vistiendo la túnica amarilla. El discípulo dijo que era difícil pensar
en ello y que, aunque no tenía planes de dejar los hábitos, en realidad no se hallaba en
condiciones de decidir si alguna vez lo haría. Cuando lo analizaba, dijo, sus
pensamientos parecían no tener sentido. Ajahn Chah, entonces, contestó diciendo, "Eso
que no tiene sentido es el verdadero Dhamma".
172
Cuando alguien le preguntó a Ajahn Chah por qué había tanto crimen en Tailandia, un
país budista, o por qué en Indochina todo era un desorden, dijo: "No son budistas esos
que están haciendo esas maldades. ¡Eso no es budismo! El Buda nunca enseñó nada
como eso. ¡La gente está haciendo esas cosas!"
173
Una vez, un visitante le preguntó a Ajahn Chah si él era un Arahant. Él dijo: "Yo soy
como un árbol en el bosque. Los pájaros vienen al árbol, se posan en sus ramas y comen
47
de su fruto. Para los pájaros, el árbol puede ser dulce o amargo, o lo que sea. Los
pájaros dicen dulce o amargo, pero desde el punto de vista del árbol, eso es sólo el
parloteo de los pájaros."
174
Alguien comentó: "Puedo observar al deseo y a la aversión en mi mente, pero es difícil
observar la ilusión." "¿Usted está montando un caballo y preguntándose dónde está el
caballo?", fue la respuesta de Ajahn Chah.
175
Algunas personas se convierten en monjes a causa de su fe, pero después pisotean las
enseñanzas del Buda. No se conocen bien a sí mismos. Los que realmente practican en
estos días son muy pocos por que hay demasiados obstáculos que superar. Pero, si no es
bueno, déjalo morir; si no muere, haz que sea bueno.
176
Dice usted que ama a su novia en un cien por ciento. Bueno, déle vuelta de adentro
hacia fuera (como un guante) y vea cuánto porcentaje de ella ama todavía. O, si extraña
tanto a su amante cuando no está con usted, ¿por qué no le pide que le mande un frasco
con sus deposiciones dentro de él? Así, en cualquier momento en el que piense en ella
con nostalgia, puede abrir el frasco y olerlo. ¿Repugnante? ¿Qué es eso entonces, eso
que ama? ¿Qué es eso que hace que su corazón golpee como una maza trituradora de
arroz cada vez que una chica, con una figura de verdad atractiva, llega caminando por
ahí o huele su perfume en el aire? ¿Qué es eso? ¿Qué fuerzas son esas? Lo atraen y lo
aspiran, pero usted no presenta una pelea verdadera, ¿o no? ¡Hay un precio que pagar
por ello al final, usted lo sabe!
177
Un día, Ajahn Chah se encontró con una rama grande y pesada que yacía en su camino,
la cual él quería quitar del sendero. Le indicó a un discípulo que la sostuviese por un
extremo mientras él levantaba el otro. Entonces, cuando la sujetaban, ya lista para
arrojarla, levantó la vista y preguntó: "¿Está pesada?" Y después de que la habían
arrojado dentro del bosque, le preguntó de nuevo: "Ahora, ¿está pesada?" Era así como
48
Ajahn Chah enseñó a sus discípulos a ver el Dhamma en cada cosa que ellos decían o
hacían. En este caso, demostraba el beneficio de "dejar ir".
178
Uno de los discípulos de Ajahn Chah estaba desconectando una grabadora cuando tocó
accidentalmente uno de los aguijones de metal del empalme mientras todavía estaba
conectada. Recibió una descarga eléctrica y la dejó caer de inmediato. Ajahn Chah se
dio cuenta y dijo: "¡Oh! ¿Cómo fue que pudiste soltar eso con tanta facilidad? ¿Quién te
dijo que lo hicieras?."
179
Era Navidad y los monjes extranjeros habían decidido celebrarla. Invitaron a algunos
laicos, así como también a Ajahn Chah, a unirse a ellos. Los laicos, en general, estaban
molestos y se mostraban escépticos. ¿Por qué, preguntaron, estaban celebrando la
Navidad los budistas? Entonces Ajahn Chah dio una charla sobre religión en la que dijo:
"Hasta donde yo entiendo, el cristianismo le enseña a la gente a hacer el bien y a evitar
el mal, así como lo hace el budismo, así que, ¿cuál es el problema? No obstante, si la
gente está molesta por la idea de celebrar la Navidad, eso puede ser fácilmente
subsanado. No la llamaremos Navidad. Llamémosla "Navibudadád". Cualquier cosa que
nos inspire a ver lo que es verdadero y a hacer lo que es bueno es una práctica adecuada.
Ustedes pueden llamarlo con cualquier nombre que les guste."
180
Durante el tiempo en el que refugiados de Laos y Camboya estaban entrando a raudales
en Tailandia, fueron muchas las organizaciones de caridad que salieron para brindar
ayuda. Esto provocó que algunos monjes occidentales ordenados pensaran que no era
correcto que los monjes y las monjas budistas únicamente estuviesen sentados en el
bosque mientras que otras organizaciones religiosas estaban participando tan
activamente en procura de aliviar las difíciles condiciones de los refugiados. De modo
que se acercaron a Ajahn Chah para expresar su preocupación, y esto es lo que él les
dijo: "Ayudar en los campos de refugiados es bueno. De hecho, es nuestro mutuo deber,
natural y humano. Pero pasar a través de nuestra propia locura para que podamos guiar a
otros a través de la suya, ésa es la única cura. Cualquiera puede distribuir ropas y erigir
49
tiendas de campaña, pero ¿cuántos pueden internarse en el bosque y sentarse a conocer
sus mentes? Hasta tanto no sepamos como "vestir" y "alimentar" las mentes de las
personas, siempre habrá un problema de refugiados en alguna parte del mundo."
181
Ajahn Chah escuchó a uno de sus discípulos recitar el Sutra del Corazón. Cuando hubo
terminado, Ajahn Chah dijo, "no-vacuidad tampoco... no Bodhisatta." Entonces
preguntó, "¿De dónde vino este sutra?" "Es célebre por haber sido dicho por el Buda,"
contestó el devoto. "No Buda," reconvino Ajahn Chah. Entonces dijo, "Este es un
discurso sobre la sabiduría profunda, más allá de todas las convenciones. ¿Cómo
podríamos enseñar sin ellas? Tenemos que tener nombres para las cosas, ¿no es así?"
182
Para convertirnos en un Noble, tenemos que padecer cambios de continuo hasta que
sólo quede el cuerpo. La mente cambia completamente, pero el cuerpo todavía existe.
Hay calor, frío, dolor y enfermedad, como de costumbre. Pero la mente ha cambiado y
ahora ve nacimiento, vejez, enfermedad y muerte bajo la luz de la verdad.
183
Alguna vez alguien le pidió a Ajahn Chah que hablara sobre su propia iluminación;
¿podría él describir su propia iluminación?. Frente a todo el mundo que esperaba
ansiosamente escuchar su respuesta, dijo: "La iluminación no es difícil de entender.
Sólo tome una banana y colóquela dentro de su boca, entonces sabrá cómo es su sabor.
Usted tiene que practicar para experimentar la realización, y tiene que perseverar. Si
fuera tan fácil llegar a estar iluminado, todo el mundo lo estaría haciendo. Comencé
yendo al templo cuando tenía ocho años, y he sido monje por más de cuarenta años.
Pero usted quiere meditar durante una o dos noches e ir directo al Nibbana. Usted no
sólo se sienta y... ¡ya está!, ahí lo tiene, lo sabe. Usted tampoco puede hacer que alguien
sople en su cabeza y lo convierta en un iluminado."
184
La manera terrenal es hacer las cosas con el objetivo de obtener algo a cambio, pero en
el budismo hacemos las cosas sin ninguna idea de ganancia. Pero, si no queremos nada
50
de nada, ¿qué obtendremos? ¡No obtendremos nada! Cualquier cosa que obtenemos es
tan sólo una causa de sufrimiento, así que practicamos no obtener nada. Sólo pacifique
la mente y dése por satisfecho con eso.
185
El Buda enseñó a dejar aquellas cosas que están ausentes de esencia verdadera y
permanente. Si usted abandona todo verá la verdad. Si no lo hace, entonces no la verá.
Así es como son las cosas. Y cuando la sabiduría despierte dentro de sí mismo, verá la
Verdad por donde mire. La Verdad es todo lo que verá.
186
Un corazón "vacío" no significa que esté vacío como si no hubiese nada dentro de él.
Está vacío de maldad, pero está lleno de sabiduría.
187
La gente no reflexiona sobre la vejez, la enfermedad y la muerte. A ellos sólo les gusta
hablar sobre el no-envejecimiento, la no-enfermedad, la no-muerte, de este modo, ellos
nunca desarrollan el sentido correcto para la práctica del Dhamma.
188
La felicidad de la mayoría de la gente depende de que las cosas vayan del modo en el
que a ellos les gusta. Tienen que tener a todo el mundo diciendo sólo cosas agradables.
¿Es así como usted encuentra la felicidad? ¿Es posible tener a todo el mundo diciendo
únicamente cosas agradables? Si es así, ¿cómo es que alguna vez encontrarán felicidad?
189
Árboles, montañas y viñas, todos viven de acuerdo con su propia verdad. Surgen y
mueren siguiendo su naturaleza. Permanecen impasibles. Pero nosotros, las personas,
no. Hacemos alboroto sobre todo. Aún el cuerpo sigue sólo a su propia naturaleza: nace,
crece hasta hacerse viejo, y con el tiempo, muere. Así, sigue a su propia naturaleza.
Quienquiera que desee que esto sea de otro modo sufrirá.
51
190
No ande pensando que aprendiendo mucho y sabiendo mucho conocerá el Dhamma.
Eso es como decir que lo ha visto todo sólo por que tiene ojos, o que lo ha escuchado
todo sólo por que tiene oídos. Usted puede ver, pero no ve completamente. Usted puede
ver únicamente con el "ojo externo", no con el "ojo interno". Usted escucha con el "oído
externo" pero no con el "oído interno".
191
El Buda nos enseñó a abandonar todas las formas de maldad y a cultivar la virtud. Éste
es el camino correcto. Enseñando de esta manera es como el Buda está levantándonos y
colocándonos en el principio del sendero. Habiendo alcanzado el sendero, tanto si
caminamos a lo largo de él o no, depende de nosotros. El trabajo del Buda ha terminado
justo allí. Nos muestra el camino, eso que es correcto y eso que no es correcto. Este
tanto es suficiente, el resto depende de nosotros. Usted debe conocer el Dhamma por
usted mismo. Puede depender de un maestro sólo el cincuenta por ciento del camino.
Aún la enseñanza que yo le he dado es completamente inútil en sí misma, aunque haya
valido la pena escucharla. Pero si usted fuera a creer en toda ella sólo por que yo lo digo
así, no estaría usando la enseñanza adecuadamente. Si me ha creído absolutamente,
entonces ha sido un tonto. Para escuchar la enseñanza, ver sus beneficios, póngala en
práctica usted mismo, véala dentro suyo... eso es mucho más útil.
193
Algunas veces, cuando estoy realizando meditación caminando, una suave lluvia
empieza a caer y quiero ir adentro para dejar de hacerlo, pero luego pienso en los
tiempos en los que solía trabajar en los campos de arroz. Mis pantalones estaban
húmedos del día anterior pero tenía que levantarme antes del amanecer y ponérmelos de
nuevo. Entonces tenía que ir debajo de la casa para sacar al búfalo de su corral. Era muy
fangoso ahí. Tenía que agarrarlo de la soga que estaba cubierta de estiércol de búfalo.
Entonces, la cola del búfalo se sacudía toda y me salpicaba con estiércol hasta el tope.
Mis pies estaban llagados con pié de atleta y caminaba pensando, "¿Por qué la vida es
tan miserable?" Y ahora aquí, yo querría detener mi meditación caminando... ¿qué sería
un poquito de lluvia sobre mí? Pensando así me estimulo a mí mismo en la práctica.
52
194
No sé como hablar de eso. Hablamos sobre cosas a ser desarrolladas y cosas a ser
abandonadas, pero realmente no hay nada que desarrollar ni nada que abandonar.
Una invitación,
Todo lo que he dicho hasta ahora han sido meras palabras. Cuando la gente viene a
verme tengo que decir algo. Pero lo mejor es no hablar demasiado sobre estas cosas. Es
mejor comenzar con la práctica sin demora. Soy como un buen amigo, invitándolo a ir a
alguna parte. No dude, sólo comience. No se arrepentirá.
Ajahn Chah
Glosario
A menos que se indique de otro modo, las palabras que se citan más abajo están en
lengua Pali.
Ajahn (Thai): Maestro.
Anagami: "El que no retorna", la tercera etapa en la realización del Nibbana.
Arahant: "El Santo", un ser iluminado libre de toda ilusión hasta la realización del
Nibbana en la cuarta y última etapa en la que está liberado del renacimiento.
Bodhisatta: En la Escuela Theravada, se refiere a un ser destinado a la iluminación.
Dhamma: La enseñanza del Buda; la Verdad Última.
Cuatro Nobles Verdades: La primera enseñanza del Buda en la cuál señaló las verdades
del sufrimiento, su causa, su terminación y el camino que lleva a su terminación.
Sakadagami: "El que retorna una vez más", la segunda etapa en la realización del
Nibbana.
Samsara: El ciclo del renacimiento.
Sotapanna: "El que ha entrado en la corriente", la primera etapa en la realización del
Nibbana.
Wat (Thai): Monasterio, Templo.
53
Agradecimientos del Traductor al Español:
Buenos Aires, 25 de Agosto de 2004
Deseo expresar mi agradecimiento a las personas que colaboraron con esta traducción al
español de esta compilación de reflexiones de Ajahn Chah: a Natalia Espíndola,
profesora de inglés, por su esfuerzo, sugerencias y oportunos consejos, a María Cristina
Giménez, mi esposa, por su revisión de los primeros originales, borradores y edición en
español y al Dr. Miguel Ángel Romero, por su excelente labor en la corrección final.
¡Que los méritos de esta labor los acompañen y estimulen su camino hasta alcanzar la
completa felicidad del Nibbana!
¡Que todos los seres estén bien, felices y en paz!
Sergio Logares