segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

SHANTIDEVA, 1


Um guia para o caminho do Bodissátva
[texto integral]
Tradução de Rogel Samuel



SHANTIDEVA:
CAPÍTULO I
O Benefício da Mente de Iluminação






la. Com respeito eu me prosterno aos Sugatas
Que estão dotados com o Dharmakaya
E me prosterno aos seus tão Nobres Filhos!
E a todos dignos de veneração.
lb. Vou explicar como se tomam os votos
Dos Filhos dos Buddhas. Estes são votos,
Dos quais o seu sentido condensei,
Que estão de acordo com as escrituras.

2.Nada há aqui que não se tenha explanado
Antes. E como não sou mestre de poética.
E em falta da intenção de ajudar aos outros
Escrevo pro meu próprio conhecer.

3. Com este conhecimento benfazejo
A força de minha fé pode crescer.
Mas se por outros lidos estes versos
Iguais a mim deles terão o sentido.

4. Dom e lazer são mui raros encontrados
E dados ao que é significativo.
Não os utilizar agora, quando
Outra ocasião perfeita me haverá?

5. Como um clarão de luz na noite escura
Tudo ilumina por alguns instantes
Assim no mundo o poder de um Buddha
Raro, breve, brilha um pensamento bom.

6. Enquanto da virtude é muito fraca
Do mal a grande força é intensa e extrema.
Mais que a Inteira, Desperta Mente, que outra
Que outra virtude o pode resistir?

7. Muitos eons os Buddhas meditaram
E viram o que era o benefício
Com esta que incontável massa de seres
Logo tem o supremo estagio e bênção.

8. Aqueles que desejem eliminar
Os muitos sofrimentos de existências
Aqueles que desejem experimentar
Alegria e felicidade eternas
Nunca abandonam o desejo do Despertar.

9. Quando nasce esta Mente que Desperta
No fraco e algemado prisioneiro
Nas existências cíclicas algemado,
”Um filho dos Sugatas" passa a ser
Reverenciado por deuses e homens.

10. É como o supremo elixir de ouro
Quando transforma nosso corpo sujo
Na forma do Buddha, jóia sem preço.
Logo, mantenha a Mente que deseja Despertar.

11. Desde o Guia deste Mundo
Investigou a inteira a Preciosa
Lei, os que queiram libertar-se desta
Morada mundana logo mantêm
Com firmeza esta Mente que Desperta.

12. As outras virtudes são plantações
Correm perigo de não darem frutos.
Mas da Mente Desperta a perene arvore
Flores e frutos colhem-se incessante.

13. Qual confiando o corpo a um bravo herói
Assim confio serei liberado
Por esta Mente que deseja Despertar, e rápido,
Mesmo que os males inomináveis extremos
Tenha cometido. Como então não devotarem-se também vocês?

14. Qual o fogo no fim do mundo
Num instante consumindo um grande mal,
A incomparável vantagem foi explicada
Ao discípulo Sudhana pelo sábio Senhor Maitreya.

15. Assim, a Mente que Desperta
É compreendida sendo de dois tipos:
A mente que aspira o despertar
E a mente que já fez isto, venturosa.

16. Assim é compreendida a distinção
Entre a aspiração e o fazer.
Assim o sábio compreende pois
A distinção entre elas, duas.

17. Ainda que ocorram grandes frutos
Na cíclica existência, para esta mente
Que aspira o Despertar,
Um ininterrupto rio de mérito não ocorre
Como com a Outra, a Mente Desperta.

18. E para quem mantém com a perfeita
Com a intenção de nunca retornar
Se encontrará completo e liberado
Das formas de vida, infinitas.

19. Desde aquele tempo até então
E mesmo quando dormindo ou inconsciente,
A força do seu mérito é igual ao céu
E perpetuamente se produzirá.

20. Para aquele, ao menor veículo devotado,
Isto logicamente foi proferido
Pelo próprio Tathagata,
No Sutra que Subahu pediu.

21. Se mesmo o pensamento de alívio
Da dor de cabeça de uma única pessoa
É intenção benéfica
De infinita benevolência,

22. Imagine então o desejo de libertar
De suas inconcebíveis misérias
Todos, mesmo os seres pequeninos,
Para que realizem, ilimitadas, suas boas qualidades?

23. Da mesma forma pais e mães
Terão com elas as mesmas benevolentes intenções?
Ou deuses e sábios?
Ou mesmo Brahma o terá?

24. Se aqueles seres nunca nem antes sonharam
Nem de tal libertação sabiam
Para si, como poderia isto nascer
E em relação a salvação dos outros?

25. Esta intenção de beneficiar os seres
Que nos outros não nasce mesmo até
Para sua própria salvação
É a extraordinária jóia da mente
E sem precedente desta vontade é o nascimento.

26. Como posso eu penetrar os abismos
Das belezas desta jóia da mente,
Esta meditação que cura a dor do mundo
E é fonte de toda a máxima alegria?

27. Se uma única intenção benévola
É maior do que a veneração aos Budhas,
Imagine externar de fazer o desejo de fazer
A todos os seres, sem distinção, felizes?

28. Através do desejo de liberarem-se da miséria
Correm eles em direção a sua desgraça.
Em vez de suas felicidades produzirem
Como inimigos, inconscientes
Correm para sua própria perdição.

29. Para os que estão privados da felicidade
E estrangulados por muitos sofrimentos
Isto satisfaz a todas as suas alegrias
E isto alivia todo o seu sofrer.

30. Acalmando toda a confusão .
Onde outra virtude igual terá?
Onde outro amigo igual a este?
Onde outro mérito como tal?

31. Se alguém algum bem feito recompensa
De louvor é digno de ser.
Imagine ao Bodhisattua
Que faz o bem sem saber a quem?

32. O mundo o venera como virtuoso
Aquele que algumas vezes oferece
Um pouco de comida a poucos seres
Que satisfaz apenas meio dia.

33. Imagine o que se pode dizer daquele
Que eternamente a bênção sem igual dos Sugatas oferece
E para um ilimitável número de seres
Desta forma atendendo a todas as suas esperanças?

34. Disse o Buddha que quem emitir um único mau pensamento
Contra um Benfeitor como um Bodhisattua,
No inferno ficara tantos eons
Quanto houver em pensamentos maus.

35. Mas se uma atitude virtuosa nasce
Seu frutos multiplicam-se muito mais que isto
E quando sofrem os Bodhisattuas nunca
Geram negatividades, mas ao contrário
Suas virtudes naturalmente se avolumam.

30. Eu me prosterno diante do corpo daquele
Em que nasceu a Preciosa e Sagrada Mente.
Nesta fonte de alegria busco refúgio
Que felicidade traz mesmo para os que lhe são adversos.

(Trad. do inglês por Stephen Batchelor e para o português por R. Samuel)

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